BLOG DO MAURO Quinta-feira, 14 de Agosto de 2025, 09:03 - A | A

Quinta-feira, 14 de Agosto de 2025, 09h:03 - A | A

DA SÉRIE OS INIMIGOS DO BRASIL

O eco do império e a resiliência da soberania brasileira

Mauro Camargo
Da Editoria

Pixabay

Arte

 

A recente e arbitrária decisão do governo dos Estados Unidos de revogar os vistos de cidadãos brasileiros, sob o pretexto falacioso de uma suposta cumplicidade com "trabalho forçado" no âmbito do programa Mais Médicos, não é um ato isolado. Não é um mero procedimento administrativo ou um equívoco diplomático. É, na sua essência, um sintoma agudo de uma patologia histórica, uma manifestação descarada de uma mentalidade imperial que se recusa a aceitar um mundo multipolar, onde nações soberanas têm o direito inalienável de definir suas próprias políticas públicas em benefício de seu povo.

O ataque a Mozart Julio Tabosa Sales e Alberto Kleiman, técnicos exemplares que dedicaram suas carreiras a um dos mais bem-sucedidos programas de saúde pública do Brasil, é um ataque a cada um de nós. É uma bofetada no rosto da soberania brasileira, uma tentativa de chantagem covarde que busca, pela força e pela humilhação, impor uma agenda que não é a nossa. Mas eles se enganam. O Brasil não se curva.

É preciso dissecar a ofensa para compreender sua gravidade. A justificativa apresentada pela diplomacia norte-americana é tão frágil que desmorona ao primeiro sopro de análise séria. Acusar o programa Mais Médicos, uma iniciativa que levou atendimento de saúde a mais de 60 milhões de brasileiros em regiões remotas e desassistidas, de ser um esquema de "trabalho forçado" é uma distorção grotesca da realidade.

O programa, estabelecido em cooperação com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), um braço da Organização Mundial da Saúde (OMS), seguiu todos os protocolos internacionais e foi um marco na redução da mortalidade infantil e na melhoria dos indicadores de saúde primária. Rotulá-lo com a pecha de uma violação de direitos humanos é uma mentira deliberada, uma arma de guerra híbrida utilizada para fins puramente políticos. O verdadeiro interesse não é, e nunca foi, a situação dos médicos cubanos, mas sim desestabilizar uma política pública exitosa que contraria a lógica neoliberal de privatização da saúde e que demonstrou a capacidade do Estado brasileiro de prover soluções eficazes para seus próprios problemas. É um ataque ideológico travestido de preocupação humanitária.

A hipocrisia de tal acusação torna-se ainda mais gritante quando se olha para o acusador. Com que autoridade moral os Estados Unidos se arvoram a julgar as políticas de direitos humanos de outras nações? Falamos de um país cujo legado recente inclui a manutenção do centro de detenção e tortura de Guantánamo, uma nódoa indelével no direito internacional; um país que promoveu invasões e desestabilizações em série no Oriente Médio sob falsos pretextos, resultando em centenas de milhares de mortes e na ascensão de grupos extremistas; um país que lida com uma epidemia de violência policial e racismo sistêmico, e cujas políticas migratórias na fronteira sul resultaram em práticas cruéis de separação familiar.

A "democracia americana", tantas vezes brandida como um modelo universal, revela-se, em um exame mais atento, um projeto atravessado por profundas contradições, onde o poder do dinheiro e dos lobbies corporativos frequentemente se sobrepõe à vontade popular. A democracia brasileira, com todos os seus desafios e imperfeições, é forjada na luta, na diversidade e em uma Constituição que consagra a dignidade da pessoa humana e os direitos sociais como seus pilares fundamentais. Nossa democracia é infinitamente mais vibrante, mais inclusiva e mais humana do que o modelo oligárquico que, de tempos em tempos, tenta nos dar lições de moral.

A tentativa de submeter o Brasil à vontade de Donald Trump ou de qualquer outra liderança estrangeira é um eco sombrio da Doutrina Monroe, uma relíquia do século XIX que postulava a América Latina como "quintal" dos Estados Unidos. Essa mentalidade neocolonial, que julgávamos superada, ressurge agora com a força de um movimento global de extrema-direita que busca minar as democracias soberanas.

A articulação internacional dessa força política é evidente e opera em várias frentes: financia movimentos antidemocráticos, espalha desinformação em massa pelas redes sociais e utiliza o lawfare e a pressão econômica para perseguir seus opositores. O que está acontecendo com o Brasil não é um caso isolado. É parte de um projeto de poder global que vê em nações como a nossa, com nosso compromisso com o multilateralismo, a justiça social e a proteção ambiental, um obstáculo aos seus interesses predatórios.

Nesse contexto, os alvos dos ataques não são escolhidos ao acaso. Perseguir funcionários do Ministério da Saúde é uma forma de atacar o Sistema Único de Saúde (SUS), um dos maiores sistemas de saúde pública universal do mundo e um símbolo da capacidade do Brasil de construir políticas de Estado inclusivas.

Da mesma forma, os ataques sistemáticos e coordenados, muitas vezes ecoados por figuras políticas alinhadas a essa mesma corrente de extrema-direita dentro e fora dos EUA, a membros do nosso Judiciário, como o Ministro Alexandre de Moraes, são uma tentativa de intimidar e deslegitimar as instituições que servem como guardiãs da nossa Constituição e do Estado de Direito. Moraes, ao defender com firmeza a democracia brasileira contra os ataques golpistas, tornou-se um símbolo da resiliência institucional do país. Atacá-lo, assim como atacar os servidores Mozart Sales e Alberto Kleiman, é tentar ferir os pilares que sustentam nossa nação. Eles miram em indivíduos para atingir o coletivo; buscam personalizar o conflito para enfraquecer a solidez das nossas instituições.

A verdadeira disputa que se desenrola no cenário mundial não é entre esquerda e direita nos moldes tradicionais. É uma batalha entre dois projetos de futuro. De um lado, um projeto autoritário, nacionalista-excludente e negacionista, que despreza a ciência, os direitos humanos e a cooperação internacional, e que busca a concentração de poder e riqueza nas mãos de uma pequena elite.

Do outro, um projeto democrático, humanista e sustentável, que entende que os grandes desafios do nosso tempo – as mudanças climáticas, as pandemias, a desigualdade extrema – só podem ser enfrentados com mais colaboração, mais ciência, mais solidariedade e mais democracia. O Brasil, com sua vocação para a paz, sua diversidade cultural e seu compromisso constitucional com um meio ambiente saudável e com a redução das desigualdades, é um protagonista natural e indispensável desse segundo projeto. É por isso que somos atacados. Eles temem nosso exemplo. Temem nossa capacidade de oferecer ao mundo um modelo alternativo ao seu projeto de dominação e obscurantismo.

A resposta do Brasil não pode ser o silêncio ou a subserviência. A resposta, como bem declarou o ministro Alexandre Padilha, é a firmeza. É reafirmar, em todos os fóruns internacionais e para nossa própria população, que "saúde e soberania não se negociam". É fortalecer ainda mais nossos programas sociais, nosso sistema de saúde, nossa ciência e tecnologia, e nossas instituições democráticas. É combater a desinformação com fatos, o ódio com solidariedade e a intimidação com coragem cívica. É mostrar ao mundo que a chantagem não funciona com um país da estatura e da história do Brasil.

A extrema-direita global, com seu líder momentâneo em Mar-a-Lago ou em qualquer outro palácio, pode articular suas forças e desferir seus golpes. Podem usar o poder econômico e a máquina de propaganda para tentar nos colocar de joelhos. Mas encontrarão um país de pé. Encontrarão uma sociedade que, apesar de suas divisões, preza por sua liberdade e por sua dignidade. Encontrarão instituições que, mesmo sob ataque, saberão cumprir seu dever constitucional. O Brasil é maior que seus detratores. Nossa democracia, forjada no calor das lutas populares e na sabedoria de uma Constituição cidadã, é resiliente. Este acinte não passará à história como um sinal da nossa fraqueza, mas como mais um testemunho da nossa inabalável força e do nosso eterno compromisso com um futuro soberano, justo e democrático para todos os brasileiros e brasileiras.



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