A manutenção do veto do governador Mauro Mendes pela Assembleia Legislativa, negando o reajuste salarial pleiteado pelo Judiciário, é muito mais do que uma decisão orçamentária. É um recado político ensurdecedor. O episódio, ocorrido nesta semana, desenha com clareza solar o atual momento de Mato Grosso: vivemos sob a égide de um Executivo que não apenas administra o cofre, mas que parece ter redesenhado a correlação de forças entre os poderes constituídos.
A pergunta que ecoa nos corredores do Centro Político Administrativo não é sobre percentuais ou datas-base, mas sobre soberania: estamos assistindo ao triunfo da responsabilidade fiscal sobre o corporativismo histórico, ou presenciando a subjugação do Legislativo e do Judiciário à vontade de um único homem?
Sob a ótica da gestão, Mauro Mendes tem um álibi robusto. Ao assumir um estado quebrado e entregá-lo com contas no azul e canteiros de obras abertos, ele conquistou o capital político necessário para dizer "não". A narrativa é sedutora e, para o contribuinte médio, justa: acabou a era dos privilégios setoriais; a regra é a austeridade para todos. Ao barrar o aumento, o Governo sinaliza que a máquina pública não existe para servir a si mesma, mas para entregar resultados. É a vitória da técnica sobre a pressão de classe.
Contudo, a moeda tem outra face, e ela é preocupante para a saúde democrática.
A facilidade com que a Assembleia Legislativa manteve o veto — com uma base governista que opera, muitas vezes, como uma extensão do Palácio Paiaguás — levanta dúvidas sobre a independência da Casa de Leis. O papel fiscalizador e moderador do Legislativo parece ter sido substituído por uma postura homologatória. Quando o Legislativo não tensiona, o equilíbrio da balança democrática pende perigosamente para um lado só.
Mais simbólico ainda é o impacto no Judiciário. Acostumado a ter suas demandas atendidas com celeridade, o Poder que detém a palavra final sobre as leis viu-se, desta vez, sem força política para derrubar uma decisão do Executivo. Isso sugere um governador que não teme o enfrentamento institucional, seguro de que sua popularidade e seus resultados o blindam de retaliações imediatas.
O custo político dessa "tratoragem", porém, é cumulativo. A eficiência administrativa de Mendes é inegável, mas a concentração de poder costuma cobrar seu preço a longo prazo. Ao vencer a queda de braço contra o corporativismo, o governador fortalece o caixa, mas pode estar criando trincheiras silenciosas em setores estratégicos do Estado.
Para a sociedade mato-grossense, resta a reflexão: queremos um gestor forte que coloca ordem na casa a qualquer custo, ou devemos temer o dia em que a harmonia entre os poderes se transforme em uma perigosa hegemonia?
Por ora, em Mato Grosso, a caneta do Executivo pesa mais que o martelo da Justiça. Resta saber até quando a balança suportará esse desequilíbrio.






