Durante pronunciamento na Câmara Municipal de Cuiabá nesta terça-feira (5), a defensora pública Dra. Rosana Leite fez um apelo direto: “o maior desafio da sociedade hoje é dar crédito à palavra da mulher vítima de violência”. A fala contundente aconteceu a convite da vereadora Maysa Leão (Republicanos), como parte das ações do Agosto Lilás, mês de conscientização pelo fim da violência contra a mulher.
A tribuna foi palco de um diálogo necessário e urgente sobre o papel do poder público e da sociedade no enfrentamento à violência de gênero, num contexto ainda marcado pelo silêncio e pelo descrédito em relação às denúncias femininas. O recente caso de Juliana Soares, brutalmente agredida com 61 socos pelo ex-namorado dentro de um elevador, foi lembrado como símbolo da violência cotidiana enfrentada por tantas mulheres – a maioria delas longe das câmeras.
Dra. Rosana agradeceu o convite da vereadora e reforçou que a responsabilização da violência começa com escuta ativa e acolhimento.
“Por muitos anos fomos silenciadas e desacreditadas. Ainda hoje, quando uma mulher denuncia, há quem questione seu comportamento. Isso precisa acabar. A palavra da mulher deve ser suficiente para acionar proteção, acolhimento e justiça”, afirmou.
A defensora também lembrou casos emblemáticos que tiveram grande repercussão nacional, como o da cantora Pamella Holanda, além dos feminicídios de Thays Machado e Emilly Bispo da Cruz, ambos ocorridos em Cuiabá em 2023.
Segundo ela, a ausência de provas visuais não pode ser justificativa para omissão:
“Não é necessário um vídeo para provar algo que as estatísticas já escancaram. Quando uma mulher diz que está sendo vítima de violência, precisamos acreditar.”
Maysa Leão destacou que a luta contra a violência de gênero não pode ser reduzida a datas simbólicas como o Agosto Lilás.
“Essa é uma pauta permanente, que precisa estar presente na rotina dos gestores, das instituições, da sociedade. O que estamos fazendo para impedir o avanço da violência doméstica e dos feminicídios? No âmbito municipal, ainda há muito por fazer”, disse a parlamentar.
Ela também criticou a ausência de homens nos espaços de decisão sobre políticas públicas voltadas à proteção das mulheres e defendeu que a luta deve ser de todos.
“Falei à doutora Rosana: espero que esse agosto seja agosto, setembro, outubro, novembro… 12 meses por ano. Cada omissão reforça a impunidade do agressor. Precisamos bater à porta, estender a mão, denunciar”, concluiu Maysa.
Em Mato Grosso, denúncias de violência contra a mulher podem ser feitas pelo número 180 (Central de Atendimento à Mulher). Situações de emergência devem ser comunicadas à Polícia Militar pelo 190. As denúncias são gratuitas, anônimas e podem salvar vidas.