A pandemia de Covid-19 forçou as pessoas a ficarem em casa e consequentemente aumentou a convivência seja com o companheiro (a) e também com os filhos. No entanto, essa aproximação trouxe à tona situações desconfortáveis e que acabaram resultando no aumento dos divórcios no Brasil. Os cartórios registrara 43.800 divórcios em 2020, um aumento de 15% se comparado com o ano de 2019.
O ápice das separações ocorreu em julho, juntamente com o primeiro pico da pandemia. Somente naquele mês, foram 7.400 divórcios no país, um aumento de 260% se observada a média dos meses anteriores.
As separações já eram uma tendência no país, conforme mostra levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nos últimos 5 anos. Neste período, houve um aumento de 75% no fim das relações.
Para a psicanalista sistêmica familiar Elisângela Esteves, a pandemia apenas despertou um desconforto que já estava presente antes do vírus mudar a rotina do casal.
"A pandemia só veio despertar algo que estava dormindo. Nada acontece assim de repente. Nenhum casal se separa do dia para a noite. Era algo adormecido. De repente veio a pandemia e despertou algo em mim. Quem amava começou a amar mais, quem odiava começou a odiar mais", analisou.
A psicanalista considera que a falta de autoconhecimento e a superficialidade da relação são fatores que contribuem para o desfecho que leva à separação.
"A pandemia vem nos ensinar que devemos nos conhecer primeiro, precisamos ter algo mais concreto, mais sólido, sair da camada rasa. Quando a gente está vivendo coisas rasas estamos na folhagem, na aparência. Precisamos aprofundar mais, descer, ir nas raízes, sentir o suporte que a terra nos oferece, que o sistema, a família nos oferece. Primeiramente precisamos nos conhecer mais, não achar o culpado".
Os fatores mais apontados para culminar no fim da relação, de acordo com a experiência de consltório de Elisângela Esteves, foram o desprezo, a falta de compreensão e respeito.
"Não estão suportando uns aos outros, em todos os sentidos, estão cheios, não aguentam mais", explica.
No entanto, para fortalecer a tese de que o autoconhecimento é a chave para o sucesso da relação, Elisângela aponta que aquilo que eu não suporto no outro geralmente são características que também carrego.
"O que você não suporta no outro são coisas que mexem com você. Muitas coisas parecidas com você e isso mexe, te irrita. Geralmente parece com você, vem de você. Vejo no outro algo que está em mim. Por isso o começo de tudo é parar, olhar dentro de nós, ver o que está me incomodando no outro. Ter empatia em primeiro lugar".
E uma das ferramentas eficazes seria o diálogo para a solução de conflitos. Muitas vezez os casais falam sobre coisas corriqueiras, mas não sobre aquilo que desagrada, que incomoda ou até mesmo sobre as coisas que trazem felicidade.
"A mesa é um lugar onde você se encontra, está mais perto do seu próximo. Depois da mesa, vem a cama. Mas a mesa é onde conversa, onde olha olho no olho, onde estão no mesmo nível. Começa a falar o que está passando, sentindo, então existe esse momento reunido".
Assista à entrevista na íntegra: