No momento em que o país discute se permitirá ou não a adoção do homeschooling, a presidente da Associação Brasileira de Psicologia Escolar Educacional e professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie, a psicóloga Roseli Caldas, afirmou que se o sistema for liberado e regulamentado no Brasil poderá abrir um precedente perigoso, deixando crianças expostas à exploração do trabalho infantil. Além disso, Roseli destaca que pela falta de convívio com a diversidade no ambiente escolar, essas crianças poderão se tornar adultos intolerantes.
"Em um país extremamente desigual, que pais, que famílias, estariam preparadas em termo de acessos culturais, formação, tempo, quantos pais no país teriam essa possibilidade. O projeto pode abrir precedentes muito perigosos de retirada de direitos que crianças tem de participação na educação escolar. A grande maioria dos pais, inclusive a pandemia trouxe de modo evidente, os pais pedindo a escola. A convivência permanente tira a possibilidade de expandir. A escola traz a chance de convivência com a diversidade", assegura Roseli Caldas.
A psicóloga explica que é na convivência com o outro que a criança obtém a clareza de saber quem é. "A medida que convivo com o outro, vejo quem é o outro, o que ele gosta, vou tendo clareza de quem ele é. A constituiçãoa do Eu se dá a partir da convivência com o diferente. O homeschooling traz a convivência com os iguais, enquanto a escola traz a possibilidade riquíssima de conviver com o outro".
Roseli Caldas destaca que a aprovação do homeschooling poderia derrubar a obrigatoriedade da educação escolar, o que pode representar risco para as crianças. "Isso pode levar a crianças que não vão para o homeschooling e nem para a escola. Vão para a lavoura, para o trabalho infantil. Abre um precedente perigoso que hoje não há. Se a criança não vai para a escola hoje, a família pode ser denunciada para o Conselho Tutelar. É possível que essa criança não vá nem para um lugar e nem para outro. Separa mais ainda quem tem condições financeiras de quem não tem", avalia.
As justificativas para o homeschooling são diversas, como evitar que as crianças sofram bullying, facilitar a aprendizagem de pessoas com deficiência, impedir a convivência com outras crianças ou pessoas que tenham valores diferentes dos da família em questão. No entanto, Caldas alerta que criar a criança em uma "bolha" pode trazer consequências desastrosas.
"Não dá para fazer homeschooling no ensino médio e na faculdade. Quando sai dessa bolha, a criança está despreparada e não sabe lidar com o diferente. Se eu não posso falar nada que gere dúvida na criança, crítica, que tipo de sociedade está formando para amanhã? Não adianta pensar que nada que for diferente vai ter acesso, porque um dia vai ter. A diversidade é bonita e a riqueza que traz em termos de aprender a tolerância".
Outro argumento utilizado seria o de que educar 30 crianças em uma mesma sala de aula não permitiria uma educação de qualidade. Roseli Caldas afirma que aumentar ainda mais essa lacuna, aprovando o homeschooling, faz com que as pessoas percam o senso do que seja política pública. "Então temos que melhorar a qualidade para todas elas, para o coletivo, para o grupo e não pensar que tiro meu filho e dou uma educação melhor para ele. Perde-se a noção de política pública. E educação é política pública".