No Brasil, cerca de 30 milhões de mulheres vivem a menopausa, segundo dados de 2024. Com o aumento da expectativa de vida, muitas delas passam metade da vida no pós-menopausa, o que torna essencial compreender o que essa fase representa — não como o fim de um ciclo, mas como o início de outro.
Para falar sobre as transformações do corpo e da mente feminina nesse período, o Papo com Ela conversou com a médica ginecologista Gesielly Martins, especialista em menopausa há mais de 15 anos. Ela defende que o conhecimento é o melhor aliado da mulher que deseja atravessar essa transição com equilíbrio e autonomia.
“A menopausa é uma fase natural da vida, mas a preparação para ela começa cerca de dez anos antes, com o climatério”, explica. “É um processo de transição que envolve mudanças lentas, mas profundas, tanto físicas quanto emocionais.”
O corpo em transformação
Durante o climatério — que costuma se iniciar por volta dos 40 anos —, o corpo feminino começa a enviar sinais da redução hormonal. A pele perde viço, o cabelo afina, a libido pode diminuir, a memória e a concentração já não funcionam como antes. A vagina tende a ficar mais ressecada, o que interfere na vida sexual, e o humor oscila com frequência.
“Nossas avós muitas vezes eram vistas como irritadas ou tristes, mas o que acontecia era um desequilíbrio hormonal. Elas não tinham acompanhamento e nem sabiam o que estavam vivendo”, conta a médica.
Além dos sintomas físicos, há também uma alteração na composição corporal: o acúmulo de gordura abdominal aumenta, a massa muscular diminui e a flacidez se torna mais visível. Tudo isso é consequência da queda do estradiol — o principal hormônio feminino.
“Os hormônios são mensageiros de saúde. Quando o estradiol cai, ele marca o início do envelhecimento biológico da mulher”, explica Gesielly.
O peso da cultura e o medo de envelhecer
Ainda hoje, a menopausa é um tema envolto em silêncio e tabu. “Vivemos em uma sociedade que cultua a juventude e teme o envelhecimento, mas chegar à menopausa é uma conquista”, diz a médica.
Há poucas gerações, as mulheres sequer viviam tempo suficiente para passar por essa fase. “Hoje temos o privilégio de chegar até ela. Precisamos encarar esse momento com leveza e cuidado — físico, mental, social e sexual.”
Segundo a ginecologista, o segredo está em começar a se cuidar cedo. “A mulher deve se preparar para a menopausa aos 40 anos, fortalecendo alguns pilares essenciais”, orienta. E esses pilares são o sono de qualidade, a atividade física, a alimentação equilibrada, o gerenciamento do estresse e o acompanhamento médico regular.
Sono de qualidade: a queda da progesterona interfere diretamente no descanso. “Muitas acordam de madrugada e não dormem bem. Higiene do sono, suplementação e, em alguns casos, reposição hormonal podem ajudar.”
Atividade física: musculação de três a quatro vezes por semana é indispensável. “A perda de massa muscular aumenta o risco de osteoporose, uma das principais causas de morte indireta entre mulheres idosas.”
Alimentação equilibrada: “A proteína precisa estar em todas as refeições. E é fundamental reduzir açúcar e álcool, que são altamente inflamatórios.”
Gerenciamento do estresse: cuidar da saúde emocional é tão importante quanto cuidar do corpo.
Acompanhamento médico regular: para avaliar carências nutricionais e considerar, se necessário, a reposição hormonal.
A reposição hormonal ainda causa medo, mas, segundo Gesielly, é segura para a maioria das mulheres. “Existem contraindicações — como histórico pessoal de câncer de mama, trombose ou doenças hepáticas —, mas, na maior parte dos casos, os benefícios são muito maiores que os riscos”, afirma.
Entre esses benefícios estão a melhora da pele, da libido, do humor, da memória e a prevenção de doenças como Alzheimer, infarto e osteoporose. A médica reforça, no entanto, que o tratamento deve ser individualizado e iniciado no momento certo.
“O hormônio não é o vilão. O problema é a desinformação. Hoje usamos hormônios bioidênticos, muito mais seguros do que os utilizados há décadas. Com acompanhamento adequado, a reposição devolve não apenas a libido sexual, mas a libido de vida — a vontade de viver, trabalhar, viajar, se divertir.”
Menopausa precoce e riscos à saúde
A menopausa é considerada precoce quando ocorre antes dos 40 anos, e vem crescendo em frequência. O principal fator é genético, mas o estresse e alguns tratamentos, como quimioterapia, também podem antecipar o processo.
“Essas mulheres precisam de atenção imediata, porque envelhecem biologicamente mais cedo e têm maior risco de doenças cardíacas e cognitivas”, alerta a médica.
Pouco se fala sobre o impacto da menopausa no sistema cardiovascular, mas ele é grande. “O estradiol age como uma vassoura nas artérias, mantendo os vasos limpos e elásticos. Quando ele cai, o risco de infarto e AVC aumenta”, explica Gesielly.
A reposição feita no momento certo ajuda a manter essa proteção, mas iniciá-la tardiamente pode ser perigoso.
Para Gesielly Martins, a menopausa não precisa ser sinônimo de perda, mas de recomeço. “É uma fase de liberdade. Os filhos estão crescidos, a mulher já se conhece melhor, e pode investir em si mesma. Com cuidado e acolhimento, ela entra na melhor fase da vida.”






