DESENVOLVIMENTO Sexta-feira, 19 de Setembro de 2025, 10:19 - A | A

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REPÚBLICA DE IDEIAS

A essência de Mato Grosso na visão de Igor Taques

Mauro Camargo

Chico Ferreira

Igor Taques

 

Igor Taques é uma figura que exala a paixão pelo ofício e um compromisso inabalável com o desenvolvimento de sua terra. Nascido e criado em Rosário Oeste, destacou-se profissionalmente em Cuiabá. Sua trajetória é um testemunho da dedicação. Desde os primeiros passos na Comunicação Social pela Universidade Federal de Mato Grosso, Igor mergulhou no universo do rádio, onde lapidou a dicção e a acuidade que o tornariam um jornalista de renome.

Com mais de 25 anos de carreira, sua voz se consolidou em veículos de comunicação, tanto no rádio quanto na televisão, tornando-o um comentarista político perspicaz e um diretor de mídia visionário. Em 2019, o convite para assumir a direção-geral do Grupo Cidade Verde de Comunicação não foi surpresa para quem acompanhava sua ascensão. Ali, à frente de uma das principais redes do estado, Igor Taques foi o arquiteto de uma comunicação que dialoga com os desafios contemporâneos. Hoje, da CBN Cuiabá aos programas televisivos, se mantém sempre com análises que desvendam o complexo cenário político e social de Mato Grosso. Sua capacidade de interpretar os caminhos da região o transformou em uma bússola para muitos que buscam compreender os desafios e oportunidades locais.

Mas, para além dos títulos e da proeminência profissional, há uma essência humana que o define. Quando o questionei sobre a chegada dos 40 anos, Igor respondeu com a serenidade de quem já enfrentou a própria finitude. Vinte anos atrás, uma série de episódios cardíacos, incluindo cinco infartos, levou médicos a prognosticar uma vida breve. Mas ele, desafiando o destino, "dobrou a aposta", chegando aos 40 com uma gratidão palpável pela vida. "Chego feliz", confidenciou, "primeiro porque tive alguns desafios de saúde na minha vida... já dobrei aí dos 20 para os 40, já estou feliz com isso."

Essa resiliência, essa capacidade de transpor obstáculos, moldou um caráter que transborda para suas relações pessoais e profissionais. Como amigo, e como observador atento de sua jornada, sempre admirei em Igor a rara combinação de talento e virtude. Sua postura, que denota e exige respeito, é um exemplo em um cenário que nem sempre prima por valores éticos. Ele, um "fenômeno", como o descrevi, que, vindo de Rosário, ascendeu no rádio e na mídia cuiabana, construindo relações importantes e deixando uma marca de conteúdo forte e talento incontestável.

Igor Taques, em sua modéstia, atribui parte de sua formação aos "melhores da comunicação de Mato Grosso", nomes como Edivaldo Ribeiro, Antero Paes de Barros, e Onofre Ribeiro, figuras que se tornaram "lendas" em suas próprias gerações. E é nessa linhagem de gigantes que Igor, hoje, se insere. Sua voz não é apenas a de um jornalista; é a voz de quem defende Mato Grosso em suas múltiplas dimensões, da economia à sustentabilidade, da política à diplomacia, sempre com um olhar atento para o futuro e um profundo respeito pelo passado. Ele se tornou, sem dúvida, um baluarte na defesa dos interesses e do potencial mato-grossense, navegando com maestria pelos desafios do presente e pavimentando caminhos para o amanhã.

 

LIDE Mato Grosso: a conexão entre ideias e ação

 

A conversa nos levou, inevitavelmente, ao LIDE Mato Grosso, uma organização que sob sua liderança no estado tem se tornado um epicentro de debates e iniciativas importantes para o desenvolvimento. O LIDE, fundado há 25 anos no Brasil pelo ex-governador João Dória, é hoje uma potência que interliga líderes empresariais, autoridades e a sociedade civil em fóruns de alta relevância, pautando sustentabilidade, inovação e o futuro econômico. O comando do LIDE MT, assumido por Igor Taques e sua sócia e CEO, Ruth Semiramys, no início deste ano, é reflexo de um trabalho meticuloso e de uma visão estratégica.

"Como é que pensaram você para essa atividade?", indaguei, curioso sobre a chegada de um jornalista à presidência de uma entidade empresarial de tamanha envergadura. Igor explicou o rigoroso processo: "Dória é um cara extremamente competente, técnico, e ele escolhe ter uma equipe que faz triagem, rastreamento de profissionais, de talentos." A indicação veio do ex-presidente local, Dr. Evandro, que conheceu Ruth, e ela, por sua vez, indicou Igor. O processo de seleção incluiu entrevistas com membros do board do LIDE Global, composto por ex-ministros e figuras de peso como o ministro Furlan, Marcos Troyjo e Isabela Teixeira, para discutir geopolítica, economia e o cenário político local. A aprovação foi unânime.

A missão era clara: posicionar Mato Grosso no ecossistema do LIDE global, à altura de sua pujança. De dois eventos previstos para o ano, a equipe de Igor e Ruth já realizou sete em menos de nove meses. Com 45 empresas filiadas, que juntas faturam anualmente mais de R$ 35 bilhões, o LIDE MT reflete a força da economia estadual. "Isso é reflexo da economia de Mato Grosso", ressaltou Igor.

A estruturação do conselho consultivo do LIDE MT é um espelho da diversidade e relevância das vozes que Taques consegue mobilizar: o ex-senador Cidinho Santos, o presidente da Federação das Indústrias, Silvio Rangel, o secretário Rogério Gallo, o presidente da Energisa, Marcelo Vinha, Dionísio da Bosco, e até a senadora Margareth Buzetti. Com eles, foram definidas as pautas, e o resultado foi o maior evento que uma unidade do LIDE já realizou no Brasil. "Para nós foi um motivo de honra, de orgulho poder levar Mato Grosso, dentro do ecossistema do LIDE, num patamar que Mato Grosso merece", afirmou Taques.

 

Sustentabilidade e desenvolvimento: dois lados da mesma moeda

 

O evento do LIDE MT, com a presença de expoentes como o ex-presidente Michel Temer, o ex-ministro Henrique Meirelles, o ex-governador João Dória e a ex-ministra do Meio Ambiente Isabela Teixeira, foi um marco. Henrique Meirelles, por uma pneumonia, não pôde comparecer no segundo dia, mas a pauta se manteve robusta: "sustentabilidade e desenvolvimento econômico".

Igor Taques enfatizou a indissociabilidade desses dois conceitos. "Não se fala em desenvolvimento econômico no Brasil sem falar de sustentabilidade", cravou. O LIDE, como "a maior organização de líderes empresariais da América Latina", com 52% do PIB nacional filiado, entende que esses temas devem andar juntos. Discutiu-se transição energética, agrossustentável, e o papel da gestão pública na descarbonização. O primeiro dia focou nos conceitos, o segundo no desenvolvimento econômico, mas sempre com a interligação clara. Grandes empresas já praticam essa visão, seja por compliance, exigências internacionais ou consciência executiva.

Igor Taques trouxe uma perspectiva interessante para o debate: "Essa resistência ela já não é mais de quem produz, de quem faz a exportação, dos grandes players, de quem já tá acostumado a exportar, de quem já tem um grande negócio, de quem já sabe como é que a roda gira." Ele defendeu a necessidade de separar os criminosos – aqueles que desmatam e queimam ilegalmente – dos produtores que operam dentro da legalidade. A fala do governador Mauro Mendes sobre "separar o joio do trigo" foi lembrada, sublinhando a urgência de uma punição exemplar e a divulgação dessas sanções para desestimular novos crimes ambientais.

Com dados do IMEA e da Secretaria do Meio Ambiente, Taques ilustrou um futuro promissor: "Nós podemos dobrar a nossa produção sem derrubar um pé de árvore." O avanço no confinamento do gado, na nutrição animal, e a consequente liberação de vastas áreas de pastagem para a agricultura são exemplos claros. Mato Grosso, que já se destaca por sua produção, pode se tornar ainda mais potente ao aproveitar as novas tecnologias e a diversificação de culturas, deixando a monocultura para trás e apostando na agroindustrialização. O DDG, resíduo do etanol que hoje é exportado para a China, é um símbolo dessa sustentabilidade que não desperdiça nada, uma inteligência que permeia todo o processo produtivo.

A consciência ambiental, para Igor, já existe entre os geradores de riqueza e emprego. O desafio é que Mato Grosso "se aproprie disso". Citando a ex-ministra Isabela Teixeira, ele defendeu que os produtores precisam parar de "reagir" a críticas e começar a "pautar", mostrando ao mundo os exemplos que o estado tem a dar. Esta é uma virada de chave: não se justificar, mas liderar a narrativa, mostrando que a preservação é fundamental não só para o comércio, mas para o clima, para a regularidade das chuvas e para a manutenção dos mananciais – o grande ativo de Mato Grosso.

 

A moratória da soja e o dilema da política

 

A discussão sobre a moratória da soja revelou a complexidade do cenário. Imposta pelas tradings em resposta às exigências do mercado externo, a moratória, embora nascida de uma estratégia comercial, tem um efeito positivo na contenção do desmatamento. No entanto, ela também gerou fervorosas resistências em parte do agronegócio, culminando em uma polêmica decisão do CADE, hoje contestada juridicamente.

Sobre a posição do LIDE nesse embate, sua resposta foi elucidativa: “a função do LIDE não é escolher um lado ou outro. É ser o palco das discussões." A entidade se posiciona como um fórum, um espaço plural onde todas as vozes são ouvidas, desde os contrários aos favoráveis à moratória, até aqueles que defendem o diálogo como caminho. A expectativa é que o Supremo Tribunal Federal seja o árbitro final dessa questão, como tem ocorrido com muitos outros temas de grande relevância no Brasil.

Igor, com sua formação em ciência política, expandiu a análise para a judicialização da política no país. A incapacidade do Congresso de cumprir seu papel de debate e legislação leva, muitas vezes, à terceirização de suas funções para o Judiciário. "O Brasil precisa desses fóruns, dessas discussões, instituições, não só o LIDE, mas outras ideias paralelas", observou. A preocupação é que as discussões cheguem aos poderes constituídos sem o esgotamento prévio dos debates na sociedade civil.

A crítica ao Congresso atual foi dura, mas pertinente. "Este é o pior Congresso que já teve na história política brasileira, porque é um Congresso que se perde na discussão ideológica e produz muito pouco", disse Igor, lamentando a falta de compromisso com o avanço do Brasil. A representatividade, para ele, tem sido exercida de um ponto de vista ideológico, com parlamentares "pregando para convertidos", sem interesse em ouvir a base eleitoral ou em construir consensos. A busca pela conveniência eleitoral, em detrimento da convicção ideológica ou do bem comum, empobrece o debate público e fragiliza a democracia.

 

A responsabilidade intelectual e a geopolítica em mutação

 

A noção de "responsabilidade intelectual" das empresas surgiu como um novo pilar, ao lado da responsabilidade social e ambiental. Não é uma ideia original de Igor, mas é uma que ele defende com veemência. "A qualidade do pensamento brasileiro tem melhorado com esses debates, com várias instituições fazendo seminários, fóruns", explicou. O LIDE se destaca nesse cenário, com 14 países sediando eventos internacionais este ano para discutir o Brasil, seus problemas e soluções. Vice-governadores como Otaviano Pivetta, por exemplo, já estiveram em Dubai e em Washington, debatendo geopolítica na capital americana, ao lado de outros governadores e ministros. Londres, Paris, Roma também estão no roteiro.

Esses debates, para Igor, não visam necessariamente a conclusões imediatas, mas a exercitar o raciocínio, formar teses e conceitos, contribuindo para a base intelectual do país. Ele lamentou um certo "atrapalhamento" na formação intelectual das últimas décadas, impulsionado pela polarização ideológica que assola o Brasil desde o impeachment de Dilma Rousseff. "O Brasil não discute outra coisa além da questão da política do dia a dia", constatou, referindo-se ao factualismo que domina a agenda.

No entanto, há um descolamento entre a efervescência das discussões na sociedade civil organizada – com centenas de pautas debatidas por entidades como o LIDE, que abordam desde equidade racial até transição energética – e a classe política. "Você necessita do político, isso precisa virar lei", pontuou Igor, sobre a dificuldade de transformar discussões em políticas públicas em um país legalista como o Brasil, onde "tudo tem que estar na lei". A classe política, salvo raras exceções, está "completamente descolada" dessas discussões. Ele lembrou de um passado não tão distante, quando o Senado, por exemplo, abrigava grandes pensadores que, apesar das divergências, sabiam debater temas essenciais. Nomes como Antero Paes de Barros e Pedro Taques foram evocados como exemplos de legisladores com conteúdo.

Essa digressão nos levou a um tema de magnitude global: a mudança geopolítica irreversível. A ascensão da China, a redefinição do papel dos Estados Unidos, o enfraquecimento de organismos multilaterais – tudo converge para um novo ordenamento mundial. A visão de protecionismo, como a praticada pelo presidente Trump nos EUA, concentra-se no "quintal de casa", enquanto a China avança com uma diplomacia sutil e estratégica. Nesse contexto, o Brasil, e especialmente Mato Grosso, se encontra em uma posição de enorme privilégio.

Igor Taques, citando cientistas e diplomatas, descreveu o papel crucial do Brasil. "O Brasil é extremamente privilegiado", afirmou, destacando a abundância de água, a riqueza de seus ecossistemas (com a floresta brasileira sob os olhos do mundo), as reservas minerais e, acima de tudo, sua vocação como "grande fornecedor de alimentos do mundo". Conflito ou paz, a população mundial cresce, e o Brasil se solidifica como celeiro global.

Mato Grosso, em particular, surge como um campeão em "combustível verde", com potencial para gerar mais empregos e produção. A transição energética, seja para combustíveis ou para a alimentação da indústria, encontra o Brasil na vanguarda. A chave, para Taques, é que o Brasil, fiel à sua história, não seja "vocacionado a brigar com nenhum dos lados", mas que, com maturidade diplomática e patriotismo, "negocie com todo mundo". A postura do presidente Lula, vista por Igor como um "político experiente", é interpretada como parte desse jogo de xadrez diplomático, buscando a soberania e defendendo os interesses do país.

 

O futuro político de Mato Grosso: um chamado à preparação

 

A proximidade das eleições nos levou à arena política de Mato Grosso. "Uma das eleições mais duras dos últimos tempos", previu Igor, que, como jornalista, acompanha de perto as nuances do cenário. A saída do governador Mauro Mendes, "extremamente bem avaliado" pela sociedade e, em especial, pela classe produtiva, abre uma lacuna. A preocupação do empresariado, segundo Igor, não é apenas com a idoneidade, mas com a "qualidade de gestão" do próximo líder para garantir que o estado "siga avançando".

O legado de infraestrutura de Mauro Mendes, com mais de 6 mil km de asfalto construídos, ainda enfrenta um déficit histórico. "Nós temos mais 30 mil para fazer", lembrou Igor, dimensionando o desafio para o sucessor. Além da infraestrutura, questões como a reforma tributária, o desafio social e a violência contra as mulheres despontam como pautas cruciais.

O cenário pré-eleitoral se mostra complexo, com o grupo do governador provavelmente dividido. A influência de Mauro Mendes, apesar de forte, não se traduz automaticamente em transferência de votos como outrora.

Para Igor, a "pré-campanha será essencial". Não haverá espaço para imposições; quem almejar o governo de Mato Grosso terá que "trabalhar muito, conversar muito e estar muito preparado". A palavra-chave para o próximo governador é "preparo". "Mato Grosso espera muito de Mato Grosso", concluiu, ressaltando a necessidade de um debate técnico, focado em quem tem as melhores condições para governar.

Ainda que Mauro Mendes seja um gestor excepcional, nenhum líder é uma unanimidade. Os pontos fracos e fortes de cada candidato estarão sob escrutínio. Igor, ponderando sobre o eleitor "indecifrável" e a volatilidade das previsões, enfatizou que a única certeza é a preocupação de que o estado, que prospera apesar dos problemas, não "caia num processo de retrocesso".

A discussão final resumiu a essência do que Igor Taques representa e do que o LIDE se propõe: um chamado ao debate qualificado, à construção de um projeto para Mato Grosso que transcenda ideologias. O estado, que não pode se enclausurar nem no conservadorismo excessivo nem num progressismo irresponsável, precisa avançar na agroindustrialização, garantindo, sobretudo, a sobrevivência de seu maior ativo: o meio ambiente.



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