Em um dos principais eventos globais sobre o clima, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), realizada em Belém (PA), a diversidade da agricultura familiar de Mato Grosso ganha destaque. Conforme informações da jornalista Andréa Haddad, publicadas pela Secretaria de Comunicação de Mato Grosso (Secom-MT), uma seleção de 16 produtores de pequena escala do estado apresenta seus produtos no estande do consórcio da Amazônia Legal, composto pelos nove estados que integram o território.
Entre os selecionados está Jacira Corrêa Sarate, descendente de escravos e moradora da comunidade quilombola Mata Cavalo, em Nossa Senhora do Livramento. Sua história se entrelaça com o conhecimento ancestral no cultivo de ervas medicinais, um legado que atravessa gerações desde seu bisavô, um curandeiro. A tradição foi seguida pelo avô e pelo pai, de quem Jacira herdou o que considera uma vocação. “Meu pai sempre disse que eu tinha uma missão: a cura. Quando é uma missão você não escapa, cedo ou tarde tem que cumpri-la”, avalia.
Com o falecimento do pai, ela assumiu o desafio de dar continuidade à produção de compostos de ervas voltados para a cura. Hoje, seu trabalho é reconhecido nacionalmente, com participações em feiras em São Paulo e outras regiões do país. Para a COP30, Jacira enviou uma amostra de sua produção, que inclui o licor de casca de Jatobá, a garrafada “Cura Tudo”, o gin do Cerrado, a pomada natural, a paçoca de pilão e um suplemento à base de batata-doce.
A participação de produtores como Jacira na conferência é vista como uma vitrine estratégica. “É Mato Grosso representado na COP 30 pela agricultura familiar. São agricultores, como das comunidades tradicionais, quilombola e indígenas”, explica o técnico da Secretaria de Estado de Agricultura Familiar (Seaf) e da Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer), Geraldo Donizete Lúcio. Ele ressalta a importância do evento, que reúne líderes mundiais, cientistas e a sociedade civil para discutir o enfrentamento às mudanças climáticas. “O mundo está de olho na Amazônia e nosso Estado faz parte disso”, completa.
A seleção de produtos expostos reflete a riqueza dos biomas mato-grossenses. Além das ervas de Jacira, há itens da floresta como a castanha-do-brasil e derivados do cumaru, pequi e jatobá. A Águas Claras Cachaçaria, do Sítio Santa Rita, em São José do Rio Claro, participa com suas cachaças envelhecidas em barris de “Amburana” e “Carvalho Europeu”, além de licores de canela e café.
Do Pantanal, a BioMendies Mel, da fazenda Nossa Senhora do Carmo, em Poconé, expõe mel, extrato de própolis e licores. De Cáceres, a Apiários Turbino também aposta na qualidade do mel de própolis para atrair a atenção do público internacional.
Um dos destaques é a produção indígena. A Aldeia Massepô, da Terra Indígena Umutina, em Barra do Bugres, enviou para o evento o Café Indígena Robusta Amazônico Especial. Esta é a primeira aldeia a produzir café em escala comercial em Mato Grosso, um projeto que conta com o suporte do Governo do Estado através do programa MT Produtivo Café, da Seaf. A comunidade recebeu mudas, kits de irrigação e uma patrulha mecanizada para auxiliar no cultivo.
Segundo o cacique Felisberto Copodonepá, a cafeicultura representa um avanço significativo para a autonomia da comunidade. “Recebemos 3,6 mil mudas de café e, no ano passado, também recebemos uma patrulha, que é um trator com grade”, destacou o líder, apontando a nova cultura como uma importante fonte de renda.
Do município de Santo Antônio do Leverger, a cooperativa Armazém do Serrado (CoopAmsal) apresenta produtos como colorau, castanha de baru, açafrão-da-terra e itens derivados do babaçu, como o cappuccino e um shake nutritivo. “O shake de babaçu é resultado de um delicioso e nutritivo preparado feito de mesocarpo do coco do babaçu e do cacau 100%. O produto não contém glúten, nem açúcar, e é rico em fibras”, detalha a produtora Cristiana Almeida Rodrigues Canabrava.
A produção artesanal de Várzea Grande é representada pela Delícias da Vó Rikka, que levou para a conferência suas petas caseiras, bolachas e batata chips. “As petas caseiras são produzidas artesanalmente, ainda em pequena escala, com polvilho doce de secagem ao sol”, ressaltam os produtores da família Beckmann.
A diversidade da delegação mato-grossense se estende ao artesanato, com o Ateliê Muzzas Morenas, de Cuiabá, expondo bonecas de pano que representam figuras da cultura local, como a comadre Nhára e o Xó Dito.
A tradição dos doces caseiros também marca presença. A Doces Campo Alegre, de Nossa Senhora do Livramento, aposta em rapaduras de leite, doce de leite e manteiga de garrafa. De Rosário Oeste, a Rapadura Temporas oferece variedades de rapadura de cana, leite e mamão.
De Alta Floresta, no norte do estado, a Castanhaf Castanhas do Brasil exibe produtos como tâmara recheada com castanha e chocolate. De Sinop, a Hidromel Castilho Med apresenta o hidromel, uma bebida fermentada à base de mel.
O transporte de toda essa variedade de produtos até Belém foi realizado pela Casa Civil do Governo de Mato Grosso. Para produtores como Jacira Sarate, a visibilidade gerada pelo evento já se traduz em resultados concretos, com encomendas de diversas partes do Brasil. “Já tenho meus clientes fixos, encaminho por Sedex”, conclui.






