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LOGÍSTICA

Debate discute soluções para a infraestrutura de transportes no Centro-Oeste

Da Redação

Reprodução Canal Aberto

Hidrovia Paraguai-Paraná

 

Cuiabá sedia nesta segunda-feira (29) o quarto encontro da série de debates "Logística no Brasil", um evento que percorre as cinco regiões do país para discutir os gargalos e o futuro da infraestrutura de transportes. Realizado pelo jornal Valor Econômico em parceria com o Ministério dos Transportes e a Infra S/A, o debate reúne especialistas do setor público e privado. Em entrevista ao programa Jornal da Cultura, da rádio Cultura FM 90,7, os jornalistas Antero Paes de Barros e Michely Figueiredo conversaram com Lilian Campos, superintendente de Inteligência de Mercado da Infra S/A, que detalhou os principais desafios e projetos para a região.

Para a superintendente, a competitividade do país no mercado global está diretamente atrelada à superação dos seus entraves de transporte. "A eficiência logística é a sustentação para o crescimento e para a dominância do agronegócio brasileiro nesse cenário mundial", afirmou Lilian Campos, destacando a urgência de avançar em soluções estruturantes. A série de debates, que já passou por outras regiões, busca justamente mapear esses problemas e construir um panorama nacional sobre o tema.

Questionada sobre o principal desafio para o avanço da infraestrutura logística no Brasil, Campos apontou a necessidade de consolidar um planejamento de longo prazo, que transcenda as mudanças de governo. "Acredito que um dos desafios é a manutenção clara de um processo de planejamento de Estado. Isso deverá incluir ações com previsões ou previsibilidade de investimentos, tanto públicos quanto privados, dentro de uma cadeia de monitoramento constante e perene", explicou.

Segundo ela, essa constância é fundamental para que o país possa identificar com precisão seus gargalos e projetar as soluções adequadas. "O primeiro desafio, portanto, é manter uma constância, sabendo exatamente quais são os gargalos e problemas, e a partir disso projetar soluções e identificar os projetos que vão sanar esses gargalos", reiterou.

No contexto de Mato Grosso e do Centro-Oeste, dois projetos emblemáticos foram destacados como essenciais e estão na pauta do encontro em Cuiabá: a Ferrogrão e a Hidrovia Paraguai-Paraná. Ambos são vistos como cruciais para expandir a capacidade de escoamento da produção agrícola da região.

A Ferrogrão, um projeto ferroviário que visa ligar o polo produtor de grãos de Sinop (MT) ao porto de Miritituba (PA), é descrita por Lilian Campos como "um desafio não só financeiro, mas também de modelo de negócio". As discussões sobre o empreendimento começaram em 2012 e, desde então, o projeto passou por diversas revisões para conciliar os interesses econômicos com as exigências de sustentabilidade ambiental.

Recentemente, a quinta versão do estudo foi concluída, alcançando um novo patamar de detalhamento. "Atingimos um nível de maturidade para dar continuidade ao projeto", informou a superintendente. Atualmente, o projeto da Ferrogrão está em análise na Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), com a previsão de que os estudos sejam enviados ao Tribunal de Contas da União (TCU) em 2025, para que o edital de leilão seja publicado em 2026.

Para Lilian Campos, o andamento do projeto é um marco para o país. "Esse é um teste de maturidade do país sobre como podemos evoluir em infraestrutura, a partir de negociações complexas entre governo, setor privado e as comunidades locais", destacou, ressaltando a importância do diálogo para garantir o avanço conjunto do desenvolvimento econômico e da sustentabilidade.

Outro projeto vital para a integração regional, a Hidrovia Paraguai-Paraná, também enfrenta desafios, mas está contemplado no Plano Nacional de Logística (PNL). A hidrovia é considerada uma rota estratégica para a conexão com os países do Mercosul. A superintendente enfatizou a importância da intermodalidade, afirmando que "é fundamental poder trafegar e fazer transbordos entre os vários modais e ter uma infraestrutura bem conectada".

A deficiência na multimodalidade gera perdas expressivas para a economia brasileira. "Existem vários estudos que indicam que o custo logístico no Brasil é cerca de 30% maior do que em países como os Estados Unidos e até mesmo na Argentina", apontou Campos. Esses números, segundo ela, demonstram a dificuldade do país em atingir melhores patamares de produtividade no setor, um custo que recai diretamente sobre produtores e transportadores.

Para nortear as ações, o Plano Nacional de Logística (PNL) estabelece uma visão estratégica de longo prazo, que se desdobra em planos setoriais a cada quatro anos. Dentro de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), por exemplo, há um planejamento de "cerca de dezenove bilhões em investimentos que abrangem manutenções e melhorias em malhas rodoviárias".

A garantia de continuidade desses planos é uma preocupação central. Campos explicou que o PNL foi concebido como um "planejamento de Estado", com uma estrutura de governança que visa assegurar a perenidade de suas ações. "É fundamental que exista um compromisso coletivo com a execução deste planejamento, envolvendo tanto o governo federal quanto a sociedade civil organizada e órgãos de controle", defendeu.

Nesse processo, a articulação entre os diferentes níveis de governo é imprescindível para que o sistema funcione de forma integrada. A execução de projetos federais, conforme a superintendente, "requer a participação e a integração com os níveis estaduais e municipais".

A destinação de emendas parlamentares para projetos estratégicos também foi abordada como um tema complexo e que necessita de debate. "As emendas são apresentadas por deputados e senadores através da Lei Orçamentária Anual, e uma regulação desse tipo é um desafio que deve ser debatido", comentou.

O encontro em Cuiabá foi aberto ao público, uma decisão que, segundo Lilian Campos, busca ampliar a participação social no processo. "Estamos buscando garantir uma ampla participação da sociedade civil nesse processo, que inclui consultas públicas e enriquecimento do trabalho técnico", concluiu.

Local do evento

O quarto encontro da série "Logística no Brasil" ocorre no Hotel Deville, em Cuiabá, com início às 10 horas. A participação é aberta a todos os interessados em contribuir com a discussão sobre o futuro da infraestrutura na região.



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