NOTICIÁRIO Sexta-feira, 28 de Maio de 2021, 21:15 - A | A

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INTIMIDAÇÃO CRIMINOSA

Bolsonaristas impedem campanha contrária ao presidente em Sinop

Fábio Zanini
FOLHAPRESS

Apoiadores de Bolsonaro impedem campanha de outdoors contrária ao presidente em Mato Grosso

FÁBIO ZANINI

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A instalação de nove outdoors críticos à gestão do presidente Jair Bolsonaro em Sinop (MT), pagos por um grupo de entidades locais, foi impedida por ação de apoiadores do governo.

As peças, com três mensagens diferentes, começaram a ser colocadas na manhã de quinta-feira (27), mas a instalação precisou ser interrompida após a intimidação de bolsonaristas.

Elas tinham textos e imagens críticos ao presidente, em temas como economia e combate à pandemia. Foram planejadas para ficar em locais estratégicos da cidade.

Uma delas, colocada ao lado do cemitério, dizia: "Cemitérios cheios, geladeiras vazias; governo ruim não salva vidas nem a economia", ao lado de uma foto do presidente.

Em outra, o presidente aparece ao lado do preço de produtos como gás de cozinha, arroz e gasolina, que registraram aumentos nos últimos meses.

A terceira faz referência aos motoristas de caminhão, categoria estratégica na cidade, um dos principais centros do agronegócio no Brasil: "Motorista, Bolsonaro te enganou! O combustível não para de subir e o frete aumentou".

Sinop é um dos principais redutos bolsonaristas do Centro-Oeste, onde o presidente teve 77,38% no segundo turno da eleição de 2018.

A campanha foi promovida por duas entidades de professores estaduais, a Adufmat, que reúne docentes de universidades federais, e a Adunemat, de instituições de ensino superior estaduais, além de uma nacional, a Andes (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior).

Também participou o coletivo feminista Sinop Para Elas, além de políticos locais de esquerda. Eles se cotizaram para pagar R$ 6.000 pelos outdoors.

A empresa contratada foi a MT Painéis, com 12 anos de experiência no ramo. Das 9 peças, 7 chegaram a ser colocadas, e as outras 2 tiveram sua instalação impedida por um carro que interceptou a equipe que fazia o serviço.

Um dos responsáveis pela empresa de outdoors, que não quis ter o nome divulgado, diz que, pouco tempo após os primeiros cartazes serem colocados, ele e outros representantes começaram a receber telefonemas de pessoas em tom agressivo.

"Elas diziam que a gente ia se queimar no mercado, e que esses outdoors tinham que ser tirados imediatamente", declarou.

Um dos outdoors chegou a ter sua base cortada com uso de uma serra elétrica, e depois foi derrubado, causando um prejuízo de R$ 1.500.

Um vídeo filmou o ato de vandalismo.

Assustados com a pressão, os donos da MT Painéis entraram em contato com as entidades que promoveram a campanha dizendo que seriam obrigados a suspendê-la e se prontificaram a devolver o valor desembolsado.

Na tarde de quinta-feira, os outdoors, que haviam sido instalados poucas horas antes, foram pintados com tinta branca pela própria empresa, uma vez que descolar o papel colado é inviável.

O responsável pela empresa afirma que nunca passou por situação semelhante. "A gente apenas faz a veiculação. Qualquer cliente a gente atende, independente de partido, religião etc. Como profissional a gente não faz seleção nenhuma", diz.

Assustada, a empresa não pretende fazer boletim de ocorrência. "Somos uma família tradicional. Nunca precisamos pisar em ninguém. A gente nota que isso está virando uma guerra, as pessoas têm que refletir e pensar mais no próximo, ter mais amor e menos ódio", afirmou.

Professor de ecologia da Universidade Federal do Mato Grosso e um dos responsáveis pela campanha, Gustavo Canale diz que as entidades se solidarizam com a empresa de outdoors.

"Sabemos do poder de pressão dos empresários locais sobre a empresa. Para nós, é muito mais o dano moral e o cerceamento da nossa liberdade. Queremos que os outdoors sejam colocados", diz.

As entidades ainda estão decidindo quais medidas jurídicas e policiais pretendem tomar para identificar os responsáveis pelas ameaças e pela vandalização do outdoor.

Única vereadora mulher e de esquerda da cidade, Professora Graciele (PT), que é apoiadora das entidades responsáveis pela campanha, diz ter recebido ataques e ameaças via redes sociais.

"Uma mais agressiva me chamou de vagabunda e disse que petista não se cria nessa cidade", afirmou. Ela decidiu fazer boletim de ocorrência e acionar o Ministério Público para que investigue o caso.

O episódio foi criticado pela regional mato-grossense da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).

"A Constituição estabelece como direito fundamental em uma sociedade democrática a livre manifestação. É um direito básico, conquistado após uma árdua luta após um período ditatorial", disse o presidente da OAB-MT, Leonardo Campos, em entrevista ao portal local PNB Online.

Não é o primeiro exemplo de agressão à liberdade de expressão na cidade. Em 2019, um grafite da ativista ambiental sueca Greta Thunberg em um viaduto de Sinop foi pichado e teve de ser removido.



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