NOTICIÁRIO Quinta-feira, 11 de Dezembro de 2025, 15:46 - A | A

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PRÉ-CANDIDATURA FIRME

Jayme Campos desafia Mendes e lança pré-candidatura ao governo de Mato Grosso

Mauro Camargo

Em uma manhã ensolarada de quinta-feira, 11 de julho de 2024, os estúdios da Rádio Cultura FM 90.7 em Cuiabá ecoavam com a voz firme e pausada do senador Jayme Campos, do União Brasil (UB). Aos 74 anos, o político mato-grossense, com uma trajetória que remonta aos anos 1980, não media palavras ao anunciar sua pré-candidatura ao governo de Mato Grosso. "Não é peitar o partido, é peitar um grupo que se acha dono do União Brasil", disparou ele, em entrevista exclusiva aos jornalistas Antero Paes de Barros e Michely Figueiredo. Com um tom que mescla indignação e otimismo, Campos pintou um quadro vívido da política local: um estado rico em recursos naturais, mas marcado por disputas internas, denúncias de corrupção e uma base popular ávida por mudanças.

A conversa, transmitida ao vivo, durou pouco mais de uma hora, mas condensou anos de experiência política. Campos, que já foi prefeito de Várzea Grande, deputado federal e senador, não poupou críticas ao atual governador Mauro Mendes (UB) e ao vice, Otaviano Pivetta (Republicanos). Ele argumenta que o União Brasil, partido que ele ajudou a fundar em suas origens como PDS, está sendo "empurrado goela abaixo" em alianças que ignoram a base partidária. "O partido tem que ser ouvido", enfatizou, referindo-se ao compromisso de Mendes com Pivetta, que ele vê como uma imposição. Para o senador, isso não é apenas uma briga interna; é uma defesa da democracia partidária em um estado onde o poder parece concentrado em poucas mãos.

Campos, que ingressou na política em 1982, posiciona-se como um veterano independente. "Eu nunca saí do partido: PDS virou PFL, depois DEM, e agora União Brasil. São poucos os que ficam 40 anos na mesma sigla", orgulhou-se ele, destacando sua militância desde os tempos do primeiro diretório municipal em Várzea Grande. Essa longevidade, segundo ele, dá "musculatura" para enfrentar adversários como o senador Wellington Fagundes (PL) e o próprio Pivetta, que ele diz estar 15 pontos atrás em pesquisas internas.

A pré-candidatura de Campos não surge do nada. Ele a descreve como um lançamento natural, impulsionado por conversas com a sociedade e filiados. "Estou preparando o terreno, conversando com prefeitos, vereadores e o povo", contou, revelando ter recebido mais de 1.200 mensagens de WhatsApp em um único dia, com apoios como "Vamos pra cima!" e "Chega desse grupinho fechado". Para ele, o União Brasil precisa de uma candidatura própria para crescer: eleger mais deputados estaduais e federais, fortalecer a base. Sem isso, alerta, o partido encolhe, perdendo filiados para legendas como PRD e Republicanos. "Sem perspectiva de governador, não tem futuro", resume.

Mas o que incomoda Campos é a sensação de "apartheid" na política mato-grossense. Ele compara o estado a uma "fazenda com cinco sócios" que decidem tudo, desde governador até suplentes de senador. "Já estão escolhendo suplentes antes das vagas!", ironizou, citando declarações recentes de aliados de Mendes. Essa concentração de poder, na visão do senador, ignora a diversidade do estado: empresários, trabalhadores, jovens e profissionais liberais que compõem o União Brasil. Ele recusa a narrativa de que sua candidatura é para "negociar" – algo comum em candidaturas "picaretas", como ele chama. "Eu tenho biografia para enfrentar qualquer um", afirma.

A resistência interna no partido, controlado por Mendes como presidente do diretório estadual, é o calcanhar de Aquiles. O secretário da Casa Civil, Fábio Garcia, porta-voz do governador, declarou que o União Brasil não será consultado na escolha. Campos rebateu com veemência: "Ele foi infeliz na fala. O partido tem que impor autoridade". Ele propõe uma convenção democrática ou até um "plebiscito" interno: "Perguntem aos prefeitos e vereadores: querem candidatura própria? Se sim, eu avanço; se não, vou pra casa".

Se o diretório estadual barrar, Campos não hesita em escalar para o nacional. "Vou recorrer ao diretório nacional, se preciso", garante, citando o apoio do presidente do Congresso, Davi Alcolumbre (UB-AP), que o teria chamado de "meu único candidato no Brasil". "Jayme será o que quiser: senador ou governador", teria dito Alcolumbre em conversa testemunhada por Nilson Leitão, que assume a presidência do PP em Mato Grosso, é visto como aliado chave, facilitando diálogos em uma possível federação PP-União.

A entrevista ganhou tons investigativos quando Campos tocou em denúncias de corrupção. Ele prometeu "tirar o tapete" de esquemas antigos, citando um caso emblemático: um "cidadão" que, em um dia, obteve 50 mil hectares de terra pública via Intermat por apenas R$ 0,30 o hectare. "Tem documento, título expedido. Vou levar à luz", avisou, sem nomear diretamente, mas insinuando figuras ligadas ao poder. "Esses bacanas ficaram bilionários às custas do Estado", criticou, referindo-se a grilagens e concessões irregulares. Para ele, Mato Grosso avançou nos últimos 10 anos não por políticos "que chegaram ontem", mas pela população que "rala 24 horas por dia". Subestimar essa inteligência, diz, é erro fatal.

No âmbito nacional, Campos comentou projetos sensíveis no Senado, como a dosimetria de penas, aprovado na Câmara e em análise. "Vou estudar com a equipe, mas há exageros em condenações", opinou, elogiando o relatório do deputado Paulinho da Força (Solidariedade), ao qual propôs emendas. Ele defendeu a harmonia entre poderes, criticando interferências do STF em leis aprovadas pelo Congresso. "Maioria deve ser respeitada. O Supremo não pode ser dono do Brasil", argumentou, citando o recuo do ministro Gilmar Mendes em uma decisão recente. Sobre a PEC da Blindagem, que daria ao Congresso poder de revisar condenações, foi categórico: "É pra blindar bandido. Sou contra".

A visão de futuro de Campos é povo-centrada. "Faço política conversando com os humildes, ouvindo sugestões para o programa de governo", explica. Ele planeja uma maratona por Mato Grosso, visitando cidades como Campo Novo do Parecis, e já conta com apoios de entidades de classe. Uma dobradinha com Janaína Riva (MDB), deputada estadual e nora de Wellington Fagundes, é possível, apesar das rivalidades. "Conversarei no momento certo", disse. Sua agenda inclui reunião com o presidente nacional do UB, Antônio Rueda.

Aos 75 anos em 2026, Campos descarta vaidade: "Meu carro quebrou a marcha ré. Só pra frente". Ele ganhou seis eleições seguidas, e afirma que tem patrimônio e família para responder por atos. "Não sou picareta", reforça, contrastando com rivais que, segundo ele, batem no peito, mas têm passagens pela PF. Jayme garante que tem pesquisas internas o colocam empatado com Fagundes e à frente de Pivetta. "Se não viabilizar, aceito. Mas o partido quer candidatura própria", aposta.

Em meio a isso, denúncias pairam. Campos promete "pancada pra todo lado" com fatos guardados em Brasília. "Tem muita coisa debaixo do tapete: GAECO, PF, vão surgir". Ele nega envolvimento em "malandragem", posicionando-se como fiscalizador. "Esses bacanas roubaram Mato Grosso", ecoou.



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