Todos os 12 suspeitos de terem praticado os crimes de feminicídio nos três primeiros meses do ano foram identificados pela Polícia Judiciária Civil (PJC-MT). A Superintendência do Observatório de Segurança Pública, vinculada à Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp-MT), analisou o perfil dos autores, a partir da idade, o grau de parentesco com as vítimas, profissão e se são membros de organizações criminosas.
Dez suspeitos tinham grau de parentesco com as mulheres e dois não tinham. Cinco eram maridos/conviventes, um ex-marido/convivente, dois eram namorados das vítimas, um ex-namorado e um genro.
Cinco são pedreiros, dois fazem serviços gerais, um é estudante, um lavrador, um pintor automotivo e um aposentado. Os suspeitos têm idade entre 18 e 90 anos. Nenhum dos autores/suspeitos foram reconhecidos como membros de organizações criminosas.
Três dos suspeitos de feminicídio tinham filhos com as mulheres que mataram, deixando seis filhos órfãos da mãe. Um deles tinha 1 filho com a vítima, outro tinha 2 filhos e o terceiro tinha 3 filhos com a mulher que matou.
Como o crime de feminicídio passa pela construção social, não é um tema que deve ser combatido apenas no âmbito da Segurança Pública, mas também da Educação, Saúde, Assistência Social, geração de emprego e o empoderamento feminino, por exemplo.
“A gente incluiu uma análise do suspeito em nosso relatório porque entendemos que é importante para a política pública preventiva compreender o perfil do suspeito, dos homens que cometem o crime para que possa elaborar políticas públicas da prevenção contra esses possíveis feminicidas”, destacou a superintendente do Observatório de Segurança Pública, Tatiana Pilger
Triste estatística
O Observatório de Segurança Pública ainda apontou que os feminicídios ocorridos deixaram 20 filhos sem mãe, de janeiro a março de 2021. Elas morreram simplesmente pela condição de ser mulher. A maioria dos órfãos do feminicídio são menores.
Em três casos distintos o assassino foi o próprio pai, totalizando seis filhos com a mãe morta e o pai preso pelo crime ou foragido. Uma das 12 mulheres vítimas do feminicídio deixou seis filhos, alguns adotados, outros de pais diferentes, que estão sem a presença dela. Apenas três das 12 mulheres mortas não tinham filhos.
Os assassinatos ocorreram em 11 dos 141 municípios do estado. São eles: Santo Antônio de Leverger, Querência, Ribeirão Cascalheira, Colíder, Juara, Novo Horizonte do Norte, São José do Rio Claro, Campo Verde, Rondonópolis, Sorriso e Sinop. Este último registrou dois casos.
A maioria das vítimas morreu no fim de semana. Sete foram assassinadas dentro da própria casa e cinco em via pública. A mais jovem tinha 17 anos, a mais idosa, 75 anos, e a maioria de 30 a 45 anos. Arma branca (facas), outros (qualquer coisa que vier à mão) e força muscular foram os meios utilizados pelos assassinos. Apenas 8% usaram arma de fogo.
Medida protetiva
Oito das 12 vítimas de feminicídio foram mortas por motivo passional, 3 por rixa e 1 por motivo fútil, conforme as investigações. Em 100% dos casos, os autores do crime foram identificados.
Apenas uma das 12 mulheres assassinadas tinha registro de concessão de medida protetiva, enquanto 11 não possuíam, o que representa 83% das vítimas.
Em estudo recente sobre as mulheres vítimas de feminicídio em 2020, das 62 mulheres que perderam a vida nesta modalidade de crime, apenas 10 tinham medida protetiva, enquanto 52 não tinham proteção, seja porque não fizeram boletim de ocorrência ou porque não foram amparadas pelo direito da Justiça.
Além disso, 79% das vítimas não possuíam registros anteriores de violência doméstica, ou seja, nunca tinham feito boletim de ocorrência contra o agressor e apenas 13% tinham registros de ameaça, porte de arma ou vias de fato.
Conforme Tatiana Pilger, romper o silêncio pode sim fazer a diferença entre viver ou morrer. “A maioria das vítimas de feminicídio estava calada, não denunciou o agressor e não tinha medida protetiva. Por mais difícil que seja, é necessário denunciar, buscar ajuda. A gente tem percebido que esse crime tem ocorrido mais no interior do que na capital. Muitas não buscam expor a família ao denunciar a agressão, têm dependência financeira do agressor, não têm apoio familiar, mas denunciar ainda é melhor caminho e pode fazer a diferença para colocar limite na ação do homem”.