Em Mato Grosso, a médica pediatra Natasha Slhessarenko, uma referência na área médica estadual, está liderando a divulgação de uma cartilha que detalha como as mudanças climáticas afetam diretamente a saúde das crianças. O material, elaborado pelo movimento "Médicos pelo Clima", reúne orientações de especialistas para proteger os pequenos dos cada vez mais frequentes eventos climáticos extremos no Brasil, que já expõem 40 milhões de crianças e adolescentes a múltiplos riscos.
O alerta é claro e urgente. Uma iniciativa pioneira no Brasil, o movimento "Médicos pelo Clima", idealizado pelo Instituto Ar, está mobilizando a classe médica para combater os efeitos da crise climática na saúde da população. A divulgação de uma cartilha didática, que agora ganha força em Mato Grosso através da atuação da Dra. Natasha Slhessarenko, busca traduzir a complexidade do cenário em ações práticas para famílias, escolas e gestores públicos.
Dados do UNICEF reforçam a gravidade da situação: 60% das crianças e adolescentes brasileiros estão vulneráveis a riscos como ondas de calor, enchentes e doenças infecciosas. A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) complementa o quadro, associando a poluição do ar a 50% dos casos de pneumonia infantil e a 600 mil mortes de crianças por ano em todo o mundo.
Para orientar a população, a cartilha detalha os cinco eventos climáticos mais impactantes em cada região do país, com análises e recomendações de médicos especialistas.
Saúde mental em risco: o Impacto das inundações no Sul
A Dra. Marilyn Urrutia Pereira, médica pediatra, adverte que as inundações são um gatilho para estresse, angústia e incerteza. "Muitas crianças podem desenvolver transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), além de sentimentos de desesperança, comportamentos agressivos e isolamento social", explica. A médica também destaca o surgimento da "ecoansiedade" e os riscos físicos, como a leptospirose.
Recomendações:
Manter as crianças próximas de seus familiares ou cuidadores;
Estabelecer rotinas e pausas lúdicas para promover o bem-estar psicossocial;
Criar locais seguros para educação e recreação caso as escolas estejam fechadas, oferecendo apoio psicossocial a pais e educadores.
Dengue e arboviroses: a ameaça com a chuva e o calor no Sudeste
O Dr. Renato de Ávila Kfouri, médico pediatra infectologista, foca no aumento das arboviroses, como a dengue, principal problema de saúde pública do país em 2024. Ele explica que as chuvas intensas e as altas temperaturas criam o ambiente ideal para a proliferação do mosquito Aedes aegypti. "A dengue afeta de forma significativa as crianças e adolescentes, que são o segundo grupo de maior risco para as formas graves da doença", alerta.
Recomendações:
Vacinação: Manter em dia as vacinas contra febre-amarela e dengue, oferecidas pelo SUS;
Controle Ambiental: Eliminar focos de água parada para reduzir os criadouros do mosquito;
Proteção Individual: Utilizar repelentes de forma consistente.
Ondas de aalor no Centro-Oeste: perigos silenciosos
A própria Dra. Natasha Slhessarenko F. Barreto, médica patologista clínica e pediatra, detalha os riscos das ondas de calor. "Pode haver desidratação, com sintomas como boca seca, choro sem lágrimas e moleira deprimida em bebês. A insolação é outro problema grave, podendo causar confusão mental e vômitos", ressalta.
Recomendações:
Hidratação: Aumentar a oferta de água e sucos naturais. Para bebês em aleitamento exclusivo, aumentar a frequência das mamadas;
Proteção: Usar roupas leves, chapéus, óculos de sol e reaplicar protetor solar a cada duas horas;
Ambiente: Evitar exposição ao sol entre 10h e 16h, manter os ambientes arejados e a alimentação leve.
Desnutrição e infecções: as consequências da seca no Nordeste
Segundo a Dra. Maria Enedina Claudino de Aquino Scuarcialupi, médica pneumologista, a seca compromete a produção de alimentos, levando à desnutrição e à queda da imunidade infantil. A falta de água tratada aumenta a incidência de diarreias e doenças de pele, enquanto a poeira agrava quadros respiratórios como asma e bronquite.
Recomendações:
Políticas Públicas: Investir em infraestrutura hídrica e saneamento básico;
Prevenção: Manter o cartão de vacinação atualizado;
Cuidados Diários: Garantir a hidratação constante e a qualidade da água consumida, fervendo-a ou filtrando-a.
Queimadas na Amazônia: uma ameaça ao desenvolvimento infantil
A Dra. Raquel Prudente de Carvalho Baldaçara, médica alergista e imunologista pediatra, adverte que a fumaça das queimadas pode agravar doenças respiratórias, causar problemas cardiovasculares e afetar o desenvolvimento neurológico. "A exposição pode provocar alterações epigenéticas, que propiciam o desenvolvimento de asma, rinite e dermatite", afirma.
Recomendações:
Manter portas e janelas fechadas durante os picos de fumaça;
Evitar atividades físicas ao ar livre;
Utilizar máscaras do tipo N95 ou PFF2;
Aumentar a hidratação e priorizar alimentos saudáveis.
Um chamado à ação por um futuro saudável
Ao final da cartilha, o Dr. Daniel Becker, médico pediatra e Embaixador pelo Clima, conclui com uma mensagem poderosa: “A saúde infantil emerge como um termômetro da crise climática e um chamado à ação. Cuidar das crianças é cuidar do mundo em que elas irão crescer”.
A iniciativa reforça que a proteção da saúde infantil é uma responsabilidade coletiva, que exige a união de profissionais de saúde, famílias, educadores e gestores públicos. Para mais informações, o movimento convida a todos a seguir o perfil @medicospeloclimaoficial nas redes sociais.