Brasília já está em marcha para receber um evento significativo. Na terça-feira, dia 25 de novembro, mulheres negras de diversas regiões do Brasil se reunirão na capital federal. A mobilização tem como pautas centrais a reparação e o bem viver.
A iniciativa é um desdobramento de um movimento gestado há pelo menos dez anos, quando ocorreu a Primeira Marcha Nacional das Mulheres Negras.
A jornalista e militante do movimento negro, Jacira Silva, afirmou que “Foi um marco histórico, considerando que foi a primeira marcha”.
Naquele ano, cerca de 50 mil mulheres marcharam na Esplanada dos Ministérios. O tema central daquela mobilização foi “Marcha das Mulheres Negras Contra o Racismo, a Violência e pelo Bem Viver”.
Mulheres que vieram de várias partes do Brasil são esperadas, novamente, para ocupar as ruas da capital federal.
As organizadoras do evento indicam que a mobilização é necessária para combater o racismo e o sexismo que marginalizam as mulheres negras.
Dados do Ministério da Igualdade Racial revelam que este grupo constitui a maior parcela populacional do Brasil.
São aproximadamente 11,3 milhões de mulheres pretas e 49,3 milhões de pardas, totalizando 28% da população brasileira.
Ser o grupo mais populoso de uma nação não se traduz em proteção contra as violências estruturais presentes no país.
Historicamente, as mulheres negras acumulam os piores índices sociais.
Em 2022, sete anos após a primeira marcha nacional, a taxa de analfabetismo entre as mulheres negras era de 6,9%. Este índice representa o dobro da taxa observada entre mulheres brancas, que era de 3,4%.
As participantes da marcha também defendem os direitos dos povos tradicionais.
A preservação dos recursos naturais e de toda a biodiversidade brasileira é outra pauta.
A reparação histórica pelas dores geradas pela escravização é um dos objetivos centrais.
A marcha também reivindica um Estado que garanta os direitos de todas as pessoas.
Um modelo econômico sustentável e o bem viver completam a lista de reivindicações.
Em Brasília, os espaços de mulheres negras têm se preparado há meses.
Esses locais se organizam tanto para receber as participantes de outros estados quanto para mobilizar as mulheres que já atuam na capital.
Um exemplo é a Casa Akotirene Quilombo Urbano, localizada na Ceilândia Norte.
A Casa Akotirene fica a cerca de 30 quilômetros do centro de Brasília e atende aproximadamente 250 mulheres, além de crianças e adolescentes.
O espaço, que existe há sete anos, oferece cursos e atividades culturais.
Joice Marques preside a Casa Akotirene e lembra que o espaço ainda não existia na época da primeira marcha.
Ela destaca a importância e a alegria de poder marchar junto com as mulheres da Casa e as demais que virão a Brasília.
Joice Marques conta que “A gente tem feito algumas atividades na casa, em parceria com as organizadoras da Marcha aqui no DF, em especial o pessoal da área da saúde mental”.
Para ela, “Pra gente é uma imensa alegria marchar com as mulheres da Casa Akotirene com as mulheres de tantos lugares do Brasil e de fora do Brasil também. Pra gente é um momento histórico, que diz que, de certa forma, estamos falando a mesma língua”.
Joice Marques, que está inserida no movimento negro, considera especial estar com as mulheres da Casa.
Ela explica que essas mulheres podem não estar na academia, pensando o movimento de mulheres negras nas instâncias formais.
No entanto, "estão dentro do território delas. Também estão fazendo políticas de combate à violência, de combate ao racismo, com a sua comunidade, com a sua família”.
Na Casa Akotirene, as mulheres participam de cursos de informática, costura, música, exercícios corporais e tranças.
Joice Marques aponta que "Eu sempre falo que, quando a gente está dentro da nossa casa, a gente é só uma pessoa, é só uma mulher. Quando a gente sai para rua, a gente já é uma mulher negra, então já tem uma subjetividade a mais para gente”.
Ela detalha que “E aí a gente vive tudo isso no racismo econômico, no racismo geográfico, no racismo dentro do mercado de trabalho. No racismo que tenta deslegitimizar a gente todos os dias, dizer que a gente não é capaz, que a gente não é intelectual suficiente”.
A educadora popular e produtora cultural, nascida no Piauí e criada nas periferias do Distrito Federal, conclui que “eu acho que isso faz com que a gente entenda o quanto o racismo, a estrutura, ela é perversa”.
A gestora da Casa Akotirene se vê como uma continuidade, um sonho de seus ancestrais, e considera o projeto com as mulheres da comunidade sua grande paixão.
Ela reconhece a importância de ocupar, coletivamente, as ruas.
As mulheres levarão um estandarte, confeccionado de forma coletiva, que carrega os anseios e sonhos dessas e de tantas outras mulheres negras que estarão em marcha por reparação e bem viver.






