A Polícia Federal deflagrou nesta terça-feira (2) a Operação Intolerans para investigar ataques cibernéticos contra parlamentares federais, segundo a Agência Brasil. As buscas ocorrem em São Paulo e Curitiba com o objetivo de identificar e responsabilizar os envolvidos em ações criminosas direcionadas a deputados.
Os ataques foram do tipo negação de serviço, denominados DDoS (Distributed Denial of Service), que provocaram instabilidade e períodos de indisponibilidade nos sites institucionais dos parlamentares afetados. A metodologia utilizada pelos hackers consistiu em sobrecarga intencional dos servidores, impossibilitando o acesso aos portais.
Durante a operação, foram cumpridos dois mandados de busca e apreensão. Segundo as investigações da PF, vários sites de deputados federais foram alvos de ataques coordenados. Entre os parlamentares que tiveram seus portais comprometidos estão Bia Kicis (PL-DF), Alexandre Ramagem (PL-RJ), Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Paulo Bilynskyj (PL-SP).
O Projeto de Lei nº 1.904/2024 propõe alteração no Código Penal para equiparar o aborto após a 22ª semana de gestação ao homicídio, mesmo em casos de estupro e risco de morte materna. O projeto obteve urgência aprovada em sessão plenária e desencadeou intenso debate político e social sobre o tema.
A ação da PF busca identificar e responsabilizar os envolvidos na ação criminosa contra os parlamentares. A operação conta com o apoio de entidades estrangeiras por meio de cooperação jurídica internacional, ampliando as possibilidades de rastreamento dos autores dos ataques.
A PF não divulgou publicamente os nomes dos suspeitos investigados ou informações adicionais sobre os mandados cumpridos. A corporação informou que prossegue com as investigações para esclarecer os autores e possíveis motivações dos ataques coordenados.
Ataques cibernéticos contra instituições públicas integram uma crescente onda de crimes digitais no Brasil. Em junho de 2025, a PF havia deflagrado a Operação Timeout, que cumpriu mandados de prisão e busca em São Paulo, Paraná e Distrito Federal contra grupo responsável por diversos ataques DDoS contra sites de instituições públicas e privadas brasileiras.
A instabilidade ocasionada pelos ataques prejudicou a comunicação institucional dos parlamentares e comprometeu seu funcionamento legislativo durante os períodos de indisponibilidade dos portais.
Contexto político
O PL Antiaborto divide a opinião pública e o Congresso Nacional. Organizações de defesa de direitos humanos e grupos feministas criticam a proposta por eliminar exceções legais para aborto em casos de estupro, risco de morte materna ou malformação fetal incompatível com a vida. Parlamentares e movimentos sociais favoráveis ao projeto argumentam sobre proteção à vida desde a concepção.
A exposição política dos deputados que apoiam a proposta em plataformas digitais intensificou-se nas últimas semanas, com campanhas de mobilização pública contra os apoiadores do projeto. Os ataques hackers representam uma escalada da polarização para o ambiente cibernético.
Resposta institucional
Em março de 2025, foi instalada a Frente Parlamentar de Apoio à Cibersegurança e à Defesa Cibernética, composta por 18 senadores e quatro deputados federais. A frente tem como objetivo conscientizar a sociedade sobre a migração de práticas criminosas tradicionais para o ambiente digital e discutir a viabilidade de uma agência nacional de defesa cibernética.
A iniciativa reflete o reconhecimento de parlamentares sobre a crescente ameaça dos crimes cibernéticos contra instituições públicas. A frente busca debater e implementar políticas de proteção digital coordenadas entre os entes governamentais.
Situação em Mato Grosso
Mato Grosso tem demonstrado preocupação crescente com segurança digital. Em outubro de 2024, o estado foi identificado como o nono mais preocupado com ataques cibernéticos, com 1,33% da população pesquisando sobre segurança cibernética. A posição entre os estados mais alertados reflete a vulnerabilidade percebida das instituições locais.
Em novembro de 2025, a Assembleia Legislativa de Mato Grosso contratou a empresa 3Structure IT Ltda para reduzir o risco de ataques cibernéticos, investindo R$ 10 milhões na implementação de soluções de visibilidade e detecção de ameaças no tráfego de rede. A decisão do Poder Legislativo estadual busca blindar seus sistemas contra as ameaças crescentes.
A investida da ALMT em segurança digital reflete tendência nacional de fortalecimento de defesas cibernéticas em instituições estratégicas. O estado integra movimento mais amplo de proteção de infraestrutura crítica contra ataques coordenados.
Cooperação internacional
A participação de entidades estrangeiras na Operação Intolerans demonstra a relevância e a sofisticação dos ataques investigados. A cooperação jurídica internacional permite que autoridades brasileiras rastreiem autores de ataques que utilizam infraestrutura digital transnacional para operar.
Redes criminosas cibernéticas frequentemente utilizam servidores e proxies localizados em diferentes países para mascarar a origem dos ataques. A colaboração com parceiros internacionais expande significativamente as capacidades investigativas das autoridades brasileiras.
A Operação Intolerans marca mais uma frente de enfrentamento da PF contra crimes cibernéticos politicamente motivados. As investigações deverão indicar se os ataques foram executados por células desorganizadas de ativistas digitais ou por grupos estruturados de hackers com financiamento e planejamento prévio.






