Ao assumir como deputada estadual na licença do deputado Lúdio Cabral, a Professora Graciele (PT) detalhou, em entrevista aos jornalistas Michely Figueiredo e Antero Paes de Barros, no Jornal da Cultura (Cultura FM, 90.7), uma trajetória marcada pela militância social, pela intensa violência política sofrida como vereadora em Sinop e por críticas contundentes à política educacional vigente. A parlamentar destacou os desafios de ser mulher na política e apresentou como principal bandeira o combate à violência de gênero.
Originária de uma família humilde e com histórico de militância nos movimentos sociais e sindicais, Graciele relatou que sua entrada na política institucional foi uma decisão coletiva, motivada pela falta de representatividade durante a greve da educação em 2019. Sua atuação como vereadora em Sinop, município considerado um dos mais conservadores do estado, foi, segundo ela, um período de "muitas violências".
"Constantemente fui violentada de várias maneiras", afirmou a deputada. Ela relembrou um episódio em que manifestantes, mobilizados por fake news, invadiram a Câmara Municipal, proferiram ofensas e a ameaçaram. A repercussão do caso foi nacional, culminando em uma ligação de solidariedade do presidente Lula. "Enquanto em Sinop não há uma linha escrita sobre isso, a repercussão era a nível nacional", pontuou, criticando o silenciamento da imprensa local.
A parlamentar conectou os ataques pessoais a um machismo estrutural que busca afastar as mulheres do poder. "É a tentativa de todo um sistema de te tirar desse espaço", avaliou. Ela descreveu a dificuldade de se fazer ouvir em reuniões majoritariamente masculinas e as restrições à sua vida social por questões de segurança. "Na minha avaliação, se nós superarmos a questão da violência contra a mulher e da violência política de gênero, nós teremos mais mulheres ocupando os espaços e, portanto, uma política mais humanizadora", defendeu.
Críticas à Educação e Pautas na Assembleia
Como educadora, Graciele fez duras críticas à política estadual para a área. Ela apontou o fim da gestão democrática, que permitia à comunidade escolar eleger seus diretores, como uma "perda muito grande" que transforma a escola em um "aparelho de manutenção de status quo". A deputada também criticou o avanço das escolas cívico-militares e a desvalorização dos professores, citando cortes de salários durante greves como um exemplo do tratamento hostil.
Na Assembleia, sua principal bandeira será a defesa da mulher. Uma de suas maiores realizações como vereadora em Sinop foi a criação do Mapa da Violência Contra a Mulher, um projeto que sistematiza dados para a formulação de políticas públicas e que ela pretende expandir para o âmbito estadual. "O meu maior orgulho lá é ter levado pra Câmara a voz daqueles e daquelas que não são ouvidos", disse.
Ao ser questionada sobre o futuro, a Professora Graciele confirmou sua intenção de disputar as eleições de 2026, embora ainda não tenha definido o cargo. Ela revelou ter recebido convites de outros partidos, mas afirmou que, a princípio, seu projeto é permanecer no PT, e cobrou que o partido defina com urgência sua estratégia para o próximo pleito.