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A direita se une para atacar o Brasil, causar prejuízos às empresas exportadoras e aos trabalhadores brasileiros numa tentativa inócua de atingir o governo Lula com vistas a conseguir anistia e interferir nas eleições de 2026
Em algum lugar entre uma tragédia shakespeariana e uma comédia pastelão de baixo orçamento, o Brasil se encontra novamente no centro de um furacão diplomático e existencial. Desta vez, o enredo não envolve caravelas ou espelhinhos, mas tarifas, tuítes e um tipo de subserviência que faria os antigos vice-reis corarem de vergonha. O protagonista da vez, ou melhor, o antagonista, atende pelo nome de Donald Trump, que, em um gesto de "solidariedade" peculiar, decidiu presentear o Brasil com um tarifaço de 50% sobre seus produtos. A justificativa? Uma súbita e comovente preocupação com os "direitos humanos" de um certo ex-presidente e seus apoiadores, que por acaso respondem a um processo no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado.
É um espetáculo de realismo fantástico. Um bilionário americano, diretamente de seu campo de golfe na Flórida, declara uma "emergência nacional" por conta da situação jurídica de um aliado político em outro país e, como um czar econômico, brande a caneta para punir 200 milhões de brasileiros. A base legal para tal ato é a Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional, de 1977, um instrumento pensado para lidar com ameaças extraordinárias à segurança nacional americana. Aparentemente, um inquérito conduzido pela mais alta corte de uma república democrática agora se equipara a uma ameaça nuclear. Quem diria que a toga do ministro Alexandre de Moraes tinha tanto poder?
O impacto econômico é brutal e direto. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) já projeta perdas que ultrapassam os R$ 19 bilhões. Estados como o Ceará, que envia quase metade de suas exportações para os EUA, e o Espírito Santo, com quase um terço, sentem o golpe de forma aguda. A laranja não chega à mesa do americano, o café fica mais caro, a carne aguarda no frigorífico, e quem paga a conta é o produtor rural, o operário da indústria, o caminhoneiro. É a economia real, de carne e osso, sendo usada como ficha de pôquer em um jogo de poder que não é nosso.
Mas a tragédia se aprofunda quando percebemos que este ataque não é apenas externo. Ele tem um agente interno, um facilitador, um inimigo que veste a camisa verde e amarela enquanto torpedeia o próprio navio. O deputado federal Eduardo Bolsonaro, eleito por São Paulo – um dos estados mais prejudicados pela medida –, transformou-se no mais entusiasmado garoto-propaganda do prejuízo nacional.
Enquanto governadores e empresários se desdobram para mitigar os danos, o deputado está em solo americano em uma cruzada particular. Sua missão não é defender os interesses do Brasil, mas os de sua família. Ele não apenas comemorou o tarifaço, como trabalhou ativamente para que o governo Trump aplicasse a Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes. Esta lei, criada para punir violadores de direitos humanos e corruptos em escala global, como ditadores e chefes de cartéis, foi grotescamente distorcida para atingir um magistrado que, goste-se ou não de seus métodos, conduz um processo dentro das balizas constitucionais.
A performance de Eduardo Bolsonaro é a de um chanceler às avessas. Em vez de construir pontes, ele dinamita as poucas que restam. Em vez de buscar diálogo, ele se gaba de trabalhar para que a comitiva de senadores brasileiros em Washington "não encontre diálogo". É uma inversão completa de valores, onde a lealdade a um projeto de poder familiar se sobrepõe à lealdade à nação que jurou representar. Ele se tornou um lobista contra o próprio país, uma figura que, na história, receberia o adjetivo de "traidor" sem muita cerimônia.
A situação nos força a uma reflexão amarga sobre soberania. O que significa ser uma nação independente quando um governo estrangeiro se sente à vontade para chantagear seu sistema judiciário? E, mais importante, o que diz sobre nós quando um de nossos representantes eleitos atua como ponta de lança dessa chantagem?
Donald Trump, com sua diplomacia de porrete, expõe a fragilidade de nossas defesas. Mas é a ação de Eduardo Bolsonaro que revela a nossa ferida mais profunda. Os verdadeiros inimigos do Brasil não são apenas aqueles que, de fora, nos impõem sanções injustas. São também aqueles que, de dentro, aplaudem, celebram e colaboram com a nossa asfixia, trocando o futuro do país por trinta moedas de prata, ou melhor, por um eventual arquivamento de processo.
A justiça brasileira deve seguir seu curso, imune a pressões de magnatas e a traições domésticas. Cabe às instituições e à sociedade civil rechaçar com veemência esta agressão. Não se trata de esquerda ou direita, mas de uma questão anterior e mais fundamental: a de saber se ainda somos uma nação soberana ou se já nos tornamos um quintal onde qualquer um pode ditar as regras, desde que tenha o apoio dos capatazes locais.
O Brasil é a Nossa República!