Os olhos do mundo estão em Brasília. E não é por um bom motivo. Jornais como The New York Times, The Guardian, Le Monde e El País não estão cobrindo apenas um julgamento. Eles estão narrando um teste de estresse para a democracia brasileira. Um teste que o planeta acompanha com enorme atenção.
A repercussão na imprensa internacional sobre o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, que começou nesta terça-feira, 2, é um sinal claro. O que está em jogo aqui transcende nossas fronteiras e nossas polarizações internas. Para o mundo, a questão é simples: as regras do jogo valem para todos?
O The New York Times foi direto ao ponto. Levar Bolsonaro ao banco dos réus é sobre responsabilização. É a tentativa de uma nação de fazer um ex-líder responder pela acusação de que tentou implodir o próprio sistema que o elegeu. Não há meias palavras no texto americano. A narrativa é a de um país que luta para proteger suas instituições.
Na Inglaterra, o The Guardian destaca o risco real da pena. Fala em ostracismo político e em uma condenação que pode superar os 40 anos de prisão. Isso tira o debate do campo abstrato. Traz para a realidade as consequências de atos contra a democracia. É um recado de que a aventura golpista pode ter um preço alto, pessoal e intransferível.
A visão europeia aprofunda a análise. O francês Le Monde lembra que o Brasil ainda é assombrado pelo fantasma da ditadura militar. Para eles, a decisão de julgar Bolsonaro é “histórica” porque confronta esse passado. Mostra uma tentativa de romper com um ciclo de impunidade que marcou nossa história.
O espanhol El País reforça essa ideia de ineditismo. Aponta que, embora outros ex-presidentes já tenham sido julgados, é a primeira vez que a acusação é de tentativa de golpe. Isso eleva o patamar do julgamento. Não se trata de corrupção ou de um escândalo qualquer. Trata-se do crime mais grave que se pode cometer contra a República.
A revista britânica The Economist também se pronunciou. E foi além. Afirmou que o Brasil, ao levar Bolsonaro a julgamento, oferece aos Estados Unidos uma lição de maturidade democrática. Uma comparação direta com a dificuldade que a maior democracia do hemisfério norte enfrenta para lidar com as acusações sobre Donald Trump.
Enquanto isso, o próprio presidente americano resolveu entrar no jogo. Donald Trump anunciou tarifas de 50% sobre produtos brasileiros. Uma tentativa descabida de proteger seu aliado de extrema direita. A jogada, além de grosseira, mancha a imagem que os Estados Unidos sempre tentaram vender ao mundo, a de guardiões da democracia. Mostra que, para alguns, alianças ideológicas valem mais que princípios.
O que essa cobertura toda nos diz? Diz que, lá fora, o debate não é sobre esquerda ou direita. É sobre democracia ou barbárie. Sobre a civilidade do processo eleitoral contra a força bruta da insurreição. A imprensa estrangeira entende que o Brasil vive um momento decisivo.
Eles observam com lupa a força das nossas instituições. O Supremo Tribunal Federal, a Procuradoria-Geral da República, a Polícia Federal. Todos estão sob os holofotes. Cada passo, cada decisão, é analisado como um sintoma da saúde da nossa democracia.
Este julgamento é, portanto, um espelho. A imprensa internacional nos mostra a imagem de um país em uma encruzilhada fundamental. Um país que precisa decidir se o poder emana do voto popular ou da conspiração de gabinete.
O mundo não está apenas assistindo a um espetáculo jurídico. Está esperando para ver se o Brasil tem a maturidade e a coragem institucional para defender seu próprio futuro. O veredito, seja qual for, não será apenas uma notícia de rodapé. Será um capítulo importante na história global da luta pela democracia. E vai ecoar muito além das nossas fronteiras.






