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ELEIÇÕES 2026

O WhatsApp nas eleições de 2026: Mobilização segmentada em tempos de autorregulação

Mauro Camargo

O estudo "Os Vetores da Comunicação Política em Aplicativos de Mensagens", divulgado pelo InternetLab e pela Rede Conhecimento Social, revela uma tendência clara: o compartilhamento de conteúdos políticos em grupos de WhatsApp familiares, de amigos e de trabalho diminuiu entre 2021 e 2024. A frequência de mensagens sobre política caiu de 34% para 27% nos grupos familiares, de 38% para 24% nos de amigos e de 16% para 11% nos profissionais. Mais de metade dos 3.113 entrevistados (56%) expressa receio de opinar devido ao ambiente agressivo, com 52% se policiando mais e 50% evitando discussões para prevenir brigas. Essa autorregulação, como descreve Heloisa Massaro, diretora do InternetLab, reflete um "amadurecimento no uso" do aplicativo, onde normas éticas próprias se consolidam para preservar relações.

Essa dinâmica de contenção em conversas cotidianas não elimina o potencial eleitoral do WhatsApp. Pelo contrário, sugere uma migração para usos mais estratégicos nas campanhas, especialmente nas eleições de 2026. Nas eleições de 2022, o aplicativo foi pivotal para mobilizar eleitores e disseminar mensagens, conforme relatório do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS Rio) sobre automação em campanhas desde 2018. Candidatos como Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva exploraram grupos para segmentar audiências por região, demografia e afinidade ideológica, alcançando milhões via listas de transmissão e bots. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) registrou mais de 500 denúncias de desinformação via WhatsApp, com fake news circulando em velocidade superior a verificações factuais, influenciando percepções em estados como São Paulo e Minas Gerais.

Para 2026, essa influência deve se intensificar, mas de forma mais refinada e regulada. Com o Brasil como um dos maiores mercados do WhatsApp (mais de 120 milhões de usuários), campanhas políticas apostarão em interações diretas e personalizadas, como destacado em análise do Valor Econômico de junho de 2025. Estratégias incluirão conteúdo visual – memes, vídeos curtos e áudios – para engajar eleitores, especialmente jovens, que representam 40% do eleitorado. O feedback instantâneo permitirá ajustes em tempo real: uma mensagem mal recebida em um grupo teste pode ser reformulada antes da disseminação ampla. No entanto, a polarização observada no estudo – com 63% de esquerdistas, 66% de centristas e 61% de direitistas temendo agressões – pode levar a "bolhas" em grupos segmentados, onde 29% dos usuários preferem discutir apenas com afinados. Isso reforça narrativas extremas, como visto em 2022, quando 65% evitaram conteúdos ofensivos para não atacar valores alheios.

A regulamentação emerge como fator chave. O Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina (TRE-SC), em agosto de 2024, julgou que grupos privados de WhatsApp não se submetem integralmente às normas de propaganda eleitoral, abrindo brechas para usos informais. Mas o TSE, atento ao risco de ilícitos de dados, como mapeado pelo Data Privacy Brasil em 2022, pode endurecer regras para 2026, exigindo transparência em listas de transmissão e combatendo automação abusiva. Iniciativas como a campanha do TRE-SC contra desinformação, lançada em outubro de 2025, visam educar eleitores sobre verificação, reduzindo o impacto de 18% que compartilham ideias "ofensivas" por convicção, conforme o estudo.

Essa evolução aponta para uma campanha de 2026 onde o WhatsApp atuará como canal de proximidade, mas com riscos ampliados pela inteligência artificial. Artigos como o do Diário do Comércio preveem que ferramentas de IA gerarão conteúdos personalizados, potencializando mobilização em nichos – como grupos regionais em Mato Grosso. No entanto, sem ética, isso pode agravar a fragmentação social: 29% já saíram de grupos por desconforto, e 12% insistem em compartilhar o "importante", mesmo causando atrito.

O WhatsApp influenciará as eleições de 2026 promovendo engajamento tático e segmentado, mas demandará equilíbrio entre estratégia e responsabilidade. A autorregulação cotidiana, evidenciada pelo estudo, pode mitigar brigas, mas não impede que campanhas usem o app para polarizar em escala. Para uma democracia saudável, priorizar educação digital e fiscalização será essencial, transformando o aplicativo de vetor de divisão em ferramenta de diálogo inclusivo.



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