Um jantar pode ser apenas um jantar. Mas na política, especialmente na de Mato Grosso, um jantar raramente é só isso. O encontro que selou o apoio do governador Mauro Mendes (União Brasil) e da ala mais poderosa do agronegócio, representada pelos primos Blairo e Eraí Maggi (PP), à candidatura de Otaviano Pivetta (Republicanos) ao governo em 2026 não foi uma mera formalidade. Foi a primeira e mais decisiva jogada de um xadrez que começou a ser jogado com dois anos de antecedência, revelando um projeto de poder ambicioso e de longo prazo.
A frase de Blairo Maggi, "Precisamos eleger o homem para ter 12 anos de prosperidade seguidas", é a síntese perfeita dessa articulação. Não se trata apenas de eleger um sucessor; trata-se de consolidar uma hegemonia, um ciclo de poder que une a máquina pública estadual à força inquestionável do agro. A presença do presidente nacional do Republicanos, Marcos Pereira, e o descarte explícito de uma federação com o MDB, mostram que este bloco não está para brincadeira: ele dita as regras, escolhe seus parceiros e define o campo de batalha. Pivetta, agora ungido, é a peça central da continuidade, enquanto Mauro Mendes se move estrategicamente para ocupar uma das duas cobiçadas cadeiras no Senado Federal.
Contudo, toda ação ousada gera uma reação de igual intensidade. E o epicentro dessa reação está dentro da casa de Mendes: o União Brasil. Ao se lançar como candidato ao Senado, o governador coloca em rota de colisão direta o senador Jayme Campos, um dos caciques mais experientes e resilientes da política mato-grossense. Para Jayme, a reeleição ao Senado se torna uma missão quase impossível, pois enfrentaria o poderio do próprio governador e presidente de seu partido. A alternativa, disputar o governo, o colocaria contra a máquina que ele mesmo ajudou a eleger.
Estamos diante de uma bomba-relógio com contagem regressiva. O confronto entre Mendes e Campos é mais do que uma disputa de egos; é uma falha tectônica que ameaça rachar o União Brasil no estado. É insustentável que os dois maiores nomes da sigla sigam no mesmo barco rumo a 2026 com projetos tão conflitantes. A janela partidária será o palco para um desfecho que parece inevitável: um deles terá que buscar outra legenda, redesenhando o mapa de alianças e, potencialmente, criando uma oposição de peso onde antes havia parceria.
Enquanto o União Brasil lida com seu drama interno, a deputada estadual Janaina Riva (MDB) assiste de camarote, mas não de forma passiva. Consolidada como pré-candidata ao Senado, Janaina é hoje a única figura que rivaliza com Mauro Mendes em favoritismo. Ela construiu um capital político próprio, com forte penetração em diversas regiões e segmentos, e não depende da bênção de nenhum dos grupos em conflito para viabilizar seu nome. O cenário que se desenha aponta para uma disputa onde os dois favoritos, Mendes e Janaina, largam na frente, deixando uma briga de foice pela segunda vaga, caso Jayme Campos opte por outro caminho.
Essa briga será acirrada. O campo bolsonarista, com o deputado federal José Medeiros (PL) e o líder ruralista Antônio Galvan (DC), buscará unificar um eleitorado fiel, mas que pode se ver dividido. Nesse cenário de pulverização da direita e centro-direita, surge com força a candidatura à reeleição do senador Carlos Fávaro (PSD). Atualmente Ministro da Agricultura e Pecuária do governo Lula, Fávaro é o principal nome da centro-esquerda e esquerda mato-grossense para a disputa. Sua posição no governo federal lhe confere visibilidade e capacidade de articulação, elementos cruciais para a campanha.
Tradicionalmente, a centro-esquerda detém um percentual de votos que varia entre 25% e 30% em Mato Grosso. Em uma eleição com múltiplos candidatos da direita e extrema-direita, essa base sólida e coesa pode ser o diferencial para Fávaro garantir sua reeleição, capitalizando na fragmentação do campo adversário. Outros nomes, como o do presidente da Assembleia, Max Russi, e o ex-governador Pedro Taques, correm por fora, com potencial para fragmentar ainda mais os votos.
Resta a grande pergunta: onde se encaixa a oposição ligada ao governo federal neste tabuleiro, além de Fávaro? Com um bloco de centro-direita tão robusto e articulado em torno de Pivetta, a centro-esquerda enfrenta um desafio monumental para o governo. A eventual candidatura de Natasha Slhessarenko (PSD) ao governo, ou de outro nome da federação PT-PCdoB-PV, precisará de muito mais do que o apoio presidencial. Precisará de uma narrativa capaz de furar a bolha do agronegócio e dialogar com um eleitorado historicamente conservador.
O jantar por Pivetta não foi o fim, mas o início oficial da batalha de 2026. As peças estão postas, os generais definiram suas estratégias iniciais e as primeiras alianças foram forjadas no calor do poder. O que veremos nos próximos meses será um jogo de nervos, de negociações de bastidores e, muito provavelmente, de traições espetaculares. Mato Grosso se prepara para uma eleição de tirar o fôlego, onde gigantes se enfrentarão e o resultado, apesar do favoritismo inicial de alguns, ainda está longe de ser escrito.
thomas jefferson 09/07/2025
E como fica o Wellington fagundes nessa Situaçao que é o candidato a Governador do Bolsonaro? o Piveta não decola e o Candidato hoje para unir em vários fatores, para aglutinar que carrega hoje uma credebilidade, consegue perambular em todas as àreas chama Max Russi! Como mencionado Jantar é apenas um Jantar, Politica pode esperar tudo.
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