O dia 9 de julho fica marcado na história do Santuário dos Elefantes, em Chapada dos Guimarães, em razão da chegada de Kenya, uma elefanta de 44 anos que por 40 viveu em cativeiro, no país vizinho Argentina, na estrutura do Ecoparque Mendonza, em Buenos Aires. Todo esse período ela esteve sozinha e a única companhia da qual desfrutava era de uma pintura de elefante no muro do recinto onde ficava.
Até chegar ao seu destino final, Kenya enfrentou quatro dias de viagem e foram registrados pequenos problemas mecânicos, superados pela equipe. A chegada foi transmitida ao vivo pelo Santuário dos Elefantes.
Kenya é a segunda elefanta africana a integrar o Santuário. A primeira foi Pupy, que chegou ao local em abril. Para que o transporte ocorresse, foi necessário um processo de adaptação de Kenya, que durou cerca de três meses. Profissionais do Santuário se deslocaram para a Argentina para manejar a adaptação à caixa de transporte.
“Ela mostrou insegurança com o fechamento da porta da caixa de transporte. Por ser uma elefanta sensível, parte essencial do nosso trabalho tem sido conquistar sua confiança para que se sinta segura. Com dedicação dos tratadores e muita paciência, Kenya finalmente demonstrou tranquilidade”, diz trecho da publicação na página do Santuário.
Toda a viagem foi monitorada. A caixa de transporte conta com uma câmera que permitiu que a equipe responsável pelo translado verificasse as condições de Kenya. O planejamento incluiu paradas frequentes para garantir água, comida e conforto. Ficar em pé por um longo período já faz parte da rotina dos elefantes, por isso esse não foi um problema para a logística de transporte. A mudança foi acompanhada pela equipe do Ecoparque Mendonza.
“Vinda de um ambiente estéril, seco e sem estímulos, o contato com a natureza será essencial para seu processo de cura — física e emocional”, reitera o Santuário.
O elefante asiático Tamy, de 55 anos, que vivia no mesmo local que Kenya, seria transferido para o Santuário. No entanto morreu no Ecoparque Mendoza no final de junho. Ele havia sido resgatado de um circo e se preparava para viver no Santuário. Contudo, o mamífero já enfrentava dificuldades físicas devido à idade avançada e ao confinamento extremo. O treinamento de Kenya estava sendo realizado simultaneamente com o de Tamy.
"Além do clima, adequado para que elefantes vivam ao ar livre durante todo o ano, há muitos elementos naturais que vão contribuir para a saúde dela (Kenya) — tanto física quanto emocional. Ela terá a oportunidade de criar laços com outra elefanta, se quiser — algo que não acontece há décadas. Poderá exercitar seus músculos como não fazia desde que era filhote, subindo colinas e derrubando árvores em seu habitat. Lama, terra e grama vão ajudar na saúde de suas patas e permitir que ela elimine a pele morta de forma natural. Kenya também vai ter seu próprio espaço, sempre que quiser — um aspecto fundamental da autonomia. Pela primeira vez em 40 anos, ela poderá decidir o que quer fazer, onde e com quem", esclareceu o Santuário.
Santuário
O Santuário é regido por uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, que resgata elefantes cativos em situação de risco e oferece a eles o espaço, as condições e os cuidados necessários para que possam se recuperar física e emocionalmente dos anos passados em cativeiro. Dentro das atividades estão a busca pela preservação das espécies, o resgate e a reabilitação de elefantes, a defesa, preservação e conservação do meio ambiente, promoção do desenvolvimento sustentável, educação ambiental, voluntariado, estudos e pesquisas técnicas e científicas e projetos culturais.
A estrutura, localizada em Chapada, é o primeiro santuário de elefantes na América Latina. Com a chegada de Kenya, passa a abrigar 7 elefantes entre africanos e asiáticos. São elas: Maia, Rana, Mara, Bambi, Guillermina, Pupy. Outras quatro elefantas passaram pelo local, mas faleceram: Guida, Ramba, Pocha e Lady.
A preparação do projeto do Santuário demorou muito e só se tornou realidade em 2016. O único santuário para elefantes na América Latina está situado em aproximadamente 1200 hectares de uma propriedade diversa.
Os elefantes são manejados através de contato protegido: uma barreira ou espaço significativo é mantido entre os tratadores e os elefantes. A segurança dos tratadores não é a única preocupação. Essa distância permite que os elefantes sintam que têm seu próprio espaço. Alguns elefantes precisam disso para baixar sua guarda e se sentir totalmente seguros.
Veja a chegada de Kenya