Relator da CPI da Covid, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) atacou duramente o líder do governo Bolsonaro na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), ao afirmar que ele é comandante de um "dos maiores esquemas de roubalheiras" e que merece ser "exemplarmente punido".
As declarações de Renan ocorreram antes da sessão desta terça (31) da comissão. O relator da CPI e o líder do governo iniciaram uma guerra recentemente, com Barros acusando Renan de vazar dados de sua quebra de sigilo. Barros virou neste mês investigado formal da comissão, deixando a condição de testemunha.
A CPI acredita que o líder de Bolsonaro esteja envolvido em esquemas ligados à vacina indiana Covaxin, além de promover tráfico de influência em favor da farmacêutica Belcher -que buscava vender ao Ministério da Saúde a vacina produzida pela chinesa CanSino.
Amigo pessoal de Barros, o advogado Marcos Tolentino é apontado como sócio-oculto do FIB Bank, empresa que deu a garantia para o negócio envolvendo a Covaxin.
"Nós estamos avaliando que o deputado Ricardo Barros é o comandante de um dos maiores esquemas de roubalheira que assaltou, entre outros órgãos públicos, o Ministério da Saúde. Isso está tudo evidentemente comprovado", afirmou o relator da CPI da Covid.
"O papel do Ricardo Barros, líder do governo, na vida nacional é um papel lamentável e ele precisa ser exemplarmente punido por tudo isso", completou.
Nesta quarta-feira (1º), está marcado o depoimento de Marcos Tolentino, que promete elevar ainda mais a animosidade entre os dois.
Barros, por sua vez, acusou o gabinete de Renan de vazar informações de sua quebra de sigilo. O líder do governo teve seus sigilos fiscal, bancário, telefônico e telemático quebrados pela comissão. O deputado federal chegou a divulgar foto de servidores do gabinete que teriam acessado as informações.
Pela manhã, Barros usou uma rede social para criticar o suposto vazamento de dados que estavam presentes em relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras).
"Renan enganou [a ministra do STF] Cármen Lúcia", escreveu. "A CPI informou ao STF que ninguém havia acessado meus dados no sistema."
No entanto, afirma o líder do governo na Câmara, ofício da CPI aponta que servidores lotados no gabinete de Renan tiveram acesso aos dados sigilosos vazados horas antes de publicarem informação.
Mais tarde, Barros ainda rebateu as acusações de Renan e afirmou que o relator e a comissão querem atacar o governo Bolsonaro.
"Senador Renan e a CPI não tem nada contra mim e não terão. Minha conduta é ilibada. Entendo o desespero de não terem concretude nas suas acusações. Só querem atacar o governo do qual sou líder. Enganar o STF não resolve a falta de consistência da CPI. Só causam danos ao Brasil", informou, em nota.
Questionado se pretende recomendar o indiciamento de Barros, Renan disse que não pretende antecipar julgamentos, mas lembrou que o líder do governo já passou a ser considerado investigado.
Renan também disse que pretende concluir seu relatório nos dias 21 ou 22 de setembro.
O senador alagoano minimizou o fato de que não haverá depoimentos na próxima semana, quando será celebrado o feriado de Independência. Nos bastidores, comenta-se que a CPI não terá sessão por causa do acirramento das tensões em torno do 7 de setembro.
Inicialmente, a sessão desta segunda-feira (31) seria destinada para ouvir o depoimento do motoboy Ivanildo Gonçalves da Silva. Dados do Coaf apontam que ele fez diversos saques para a VTCLog, sendo apenas um deles no valor de R$ 4,7 milhões.
O motoboy, no entanto, obteve uma decisão no STF que garantiu a ele o direito de não comparecer para a oitiva na comissão.
De última hora, na noite de segunda-feira (30), a cúpula da CPI então decidiu substituir o depoimento pelo da CEO da VTCLog, Andréia Lima. Em nota divulgada nesta manhã, no entanto, a empresa informou que foi convocada tardiamente e que já havia compromissos assumidos anteriormente
"A VTCLog pontua que, a decisão liminar do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Nunes Marques, reforça o papel desempenhado pelo funcionário Ivanildo Gonçalves da Silva, uma vez que o mesmo apenas realiza serviços de deslocamento, incluindo diligências bancárias, atos que são necessários à administração da empresa, não desempenhando, dessa forma, nenhuma função que possa colaborar com as investigações da CPI da Covid-19", informou a nota.
A empresa também reforça que Andréia Lima estaria à disposição, mas que a convocação saiu após as 22 horas e que por isso teria tarefas inadiáveis em São Paulo.
"O recebimento desta convocação específica foi feito, após as 22h desta segunda, às vésperas de tarefas inadiáveis que exigem a sua presença na capital paulista para, entre outros compromissos, gerenciar todos os lotes recém-chegados de vacinas e, impreterivelmente hoje, definir sobre a contratação de tecnologia para transporte da Pfizer (...) dentro dos prazos e necessidades do PNI do Ministério da Saúde", completa o texto.
Após o que descreveram como "manobra" para não prestarem depoimento, a cúpula da CPI informou que pretende adotar medidas para aprofundar a investigação da VTCLog. A primeira delas foi recorrer do habeas corpus concedido a Ivanildo Gonçalves da Silva.
"Nós iremos a fundo na VTCLog até a CPI concluir [os trabalhos]", afirmou o presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM).
O vice-presidente Randolfe Rodrigues (Rede-AP), defendeu que se adote a condução sob vara para que a CEO Andréia Lima preste depoimento.
Como não houve depoimentos, a cúpula da CPI usou a sessão para aprovar requerimentos.
Um deles prevê a convocação de Karina Kufa, advogada do presidente Jair Bolsonaro. O requerimento de convocação, de autoria de Randolfe Rodrigues, argumenta que o nome da advogada surgiu através da quebra de sigilos do lobista Marconny Farias.
Em depoimento à CPI, o empresário Ricardo Santana, que atuava de maneira informal no Ministério da Saúde, afirmou que conheceu Farias em jantar na residência da advogada.
Os senadores também aprovaram novo requerimento de convocação do motoboy Ivanildo Gonçalves da Silva.
Durante a sessão, foi veiculado um vídeo que mostra o motoboy entrando em uma agência bancária no exato momento em que um boleto do ex-diretor de logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, é pago naquele local. Dias foi demitido da Saúde após um vendedor de vacinas tê-lo acusado, em entrevista à Folha de S.Paulo, de pedir propina em troca de um contrato com o ministério.
Os membros da comissão também reforçaram o pedido de proteção policial ao motoboy. Também foi aprovado requerimento de quebra de sigilo bancário, fiscal, telefônico e telemático da VTCLog.