BLOG DO MAURO Segunda-feira, 17 de Novembro de 2025, 03:57 - A | A

Segunda-feira, 17 de Novembro de 2025, 03h:57 - A | A

CRISE INSTITUÍDA

O malabarista de narrativas: Brunini entre a bravata e o pires na mão

Mauro Camargo

Abílio Brunini

 

Cuiabá, a capital do calor e das contradições, vive sob o signo de uma gestão municipal que parece ter trocado a bússola administrativa por um megafone de palanque. O prefeito Abílio Brunini, figura conhecida por sua retórica inflamada e seu estilo confrontador, tem transformado a administração pública em um espetáculo de malabarismo político, onde a culpa é sempre do outro e o mérito, invariavelmente, seu. A cidade, que já enfrenta seus desafios crônicos, agora assiste a um paradoxo: um gestor que se elegeu com a promessa de autossuficiência e independência, mas que, diante das dificuldades, aponta o dedo para Brasília, culpando o presidente Lula pelas mazelas financeiras que, em grande parte, foram gestadas em seu próprio quintal. É a arte de culpar o vento pela própria tempestade, enquanto se tenta vender o guarda-chuva alheio como invenção própria.

A narrativa de Abílio Brunini é clara e repetitiva: a crise financeira de Cuiabá é culpa do governo federal. Lula, o PT, a esquerda – todos são bodes expiatórios convenientes para justificar a falta de recursos, os serviços precários e a sensação de estagnação que paira sobre a cidade. O prefeito não poupa críticas, vocifera em redes sociais e em entrevistas, alegando que os repasses federais são insuficientes, que há um boicote velado à sua gestão por parte do Planalto. Essa retórica, embora possa ressoar com parte de sua base eleitoral, é um cobertor curto que mal consegue esconder as falhas de planejamento e a ineficiência administrativa que são as verdadeiras raízes dos problemas.

É didático analisar essa estratégia. Ao externalizar a culpa, Brunini desvia o foco das responsabilidades inerentes ao cargo. A gestão municipal é complexa, exige planejamento fiscal rigoroso, capacidade de captação de recursos e, acima de tudo, diálogo institucional. Culpabilizar o governo federal por "falta de repasses" é uma simplificação perigosa. As transferências constitucionais, como o Fundo de Participação dos Municípios (FPM), seguem critérios estabelecidos por lei e são repassadas automaticamente. Projetos específicos e convênios, por sua vez, dependem de propostas bem elaboradas, de capacidade técnica para execução e, sim, de um mínimo de boa vontade política para o diálogo. Quando um prefeito opta pelo confronto sistemático, ele fecha portas, dificulta a negociação e, no fim das contas, quem paga a conta é a população. A crise financeira, portanto, não é apenas um problema de caixa, mas também de postura política.

A bravata ideológica de Abílio Brunini, no entanto, tem um prazo de validade. Depois de meses, ou até anos, de discursos inflamados onde bradava que "Cuiabá não precisa do dinheiro de Lula", que a cidade era autossuficiente e que não se curvaria a pressões de Brasília, a realidade bateu à porta. E bateu forte. A crise se aprofundou, as contas apertaram e, de repente, o mesmo prefeito que recusava verbas federais com ares de herói, estende o pires na mão clamando por apoio federal.

Essa "queima de língua" política é a mais gritante das contradições de sua gestão. É a prova cabal de que a ideologia, por mais forte que seja, não paga as contas da prefeitura. A necessidade de recursos para obras de infraestrutura, saúde, educação e assistência social é inegável. E, para um município, o governo federal é, invariavelmente, uma fonte crucial de financiamento. Recusar esses recursos por birra política é um desserviço à cidade. Buscar esses mesmos recursos, depois de tê-los rechaçado publicamente, é um atestado de pragmatismo forçado pela má gestão, que desmascara a bravata e revela a fragilidade de um discurso que prioriza o embate em detrimento do bem-estar coletivo. A população cuiabana, que acompanha o noticiário, não é tola e percebe a dissonância entre o que se diz e o que se faz.

O pai da criança alheia

Mas as contradições de Brunini não param por aí. Em um movimento que beira a desonestidade intelectual, a gestão municipal tem se esforçado para se apropriar de obras e programas federais, apresentando-os como iniciativas próprias. O exemplo mais flagrante é o programa "Minha Casa, Minha Vida". Uma iniciativa do governo federal, com recursos e planejamento do Planalto, que em Cuiabá foi convenientemente rebatizado de "Casa Cuiabana".

A estratégia é simples e descarada: as placas oficiais do governo federal são, por vezes, escondidas ou minimizadas, enquanto a marca da prefeitura é ostentada com orgulho. O prefeito e seus secretários posam para fotos, fazem discursos e inauguram empreendimentos como se fossem fruto exclusivo de sua administração. É o "pai da criança alheia", capitalizando politicamente sobre o investimento de terceiros, tentando enganar a população e colher os louros de um trabalho que não é seu. Essa tática, além de antiética, revela um profundo desrespeito com a inteligência do cidadão e com a transparência que se espera de um gestor público. É uma tentativa de reescrever a história, de apagar a origem dos recursos e de se apropriar de um legado que não lhe pertence.

Palanque Permanente

A gestão Abílio Brunini, em muitos aspectos, parece ser uma extensão de seu palanque eleitoral. A polarização, o confronto com adversários políticos (especialmente Lula e o PT), e a busca por holofotes são elementos constantes. Cuiabá, sob essa ótica, torna-se um laboratório para o bolsonarismo em nível municipal, onde a ideologia e a guerra cultural parecem ter precedência sobre a administração pragmática e a busca por soluções concretas para os problemas da cidade.

Sua relação com outras lideranças de direita é complexa e, por vezes, ambígua. Embora se posicione como um expoente desse campo, sua postura confrontadora e, por vezes, errática, gera atritos até mesmo entre seus pares. A cidade já presenciou polêmicas envolvendo ataques à Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), embates com outras esferas de poder e uma constante busca por narrativas que o coloquem no centro do debate político, muitas vezes em detrimento da governabilidade. Essa postura de "palanque permanente" desgasta as relações institucionais, dificulta a construção de consensos e desvia a energia da máquina pública para embates estéreis, enquanto a cidade clama por soluções.

Ao final das contas, o "malabarista de narrativas" Abílio Brunini se enrosca nas próprias contradições. A gestão que prometeu independência e autossuficiência se vê obrigada a estender a mão para o mesmo governo que tanto criticou. O prefeito que recusou verbas por orgulho, agora as busca por necessidade, enquanto tenta se apropriar de obras que não são suas. Cuiabá, uma cidade com um potencial imenso, merece uma gestão que priorize a eficiência, o diálogo e a busca por soluções, em vez de se perder em embates ideológicos e na construção de narrativas vazias.

O populismo ideológico na administração pública é um caminho perigoso. Ele ilude, polariza e, no fim, prejudica a população. A história de Abílio Brunini em Cuiabá é um lembrete contundente de que a política, quando descolada da realidade e da responsabilidade, pode transformar a esperança em frustração e o progresso em estagnação. Resta saber até quando a população cuiabana aceitará essa performance, ou se exigirá que o prefeito troque o megafone pela prancheta e o palanque pela mesa de negociações, em prol de uma cidade que merece mais do que bravatas e malabarismos.



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