OPINIÃO Terça-feira, 05 de Agosto de 2025, 08:12 - A | A

Terça-feira, 05 de Agosto de 2025, 08h:12 - A | A

DEODATO LIBANIO

O que é vital na comunicação?

Deodato Libanio

Jornalista, graduado em jornalismo pela Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT e doutor em comunicação pela ECA-USP.

Afinal, o que é a comunicação? Alguns dizem que é uma interação empenhada em superar problemas, outros que é um simples entendimento ou uma troca de informação e existem pensadores que a consideram um fenômeno raro, que apenas ocorre quando a interação provoca uma transformação completa na vida dos sujeitos. 

Enfim, independente da forma com que podemos refletir sobre a comunicação e buscar respostas para ela, existe algo que parece inviolável em seu acontecer: o contato com o Outro. Sim, Outro com a letra O em maiúsculo, porque se trata de uma alteridade e não de qualquer coisa, uma presença humana exterior que nos toca, motivando-nos a acolhê-la para produzir pensamentos e ideias. 

Em nossa perspectiva, o Outro parece ser algo vital ao processo interativo, porque é de acordo com as circunstâncias da relação para com a alteridade que comunicação se efetiva. Logo, o que seria deste texto, sem você, leitor? Você é quem interpreta e integra essas ideias no seu contexto, dando um sentido possível a esta mensagem.

Esse movimento nos mostra que é necessário um acolhimento do Outro para ser possível o estabelecimento da comunicação, por outro lado, ele evidencia que o apagamento da alteridade na relação apresenta faces da violência, como a censura, a segregação social e a opressão de classes sociais, grupos étnicos e gêneros. 

O feminicídio, que é o assassinato de um ser humano mulher por motivação de gênero, ou seja, por ser quem ela é, por exemplo, se inicia com violências expressas no impedimento do processo comunicativo, seja pela opressão às falas femininas, pelo apagamento da figura da mulher nos assuntos relevantes da sociedade, economia, família e do Estado, assim como na negação de suas expressões de desejo, sexualidade e livre-arbítrio. Veja aqui informações sobre o mapa da violência contra as mulheres no Brasil e em Mato Grosso

Vivemos em uma sociedade em que as tecnologias de informação e comunicação se integraram completamente em nosso viver, seja de modo direto ou indireto. Nos centros urbanos, tornou-se comum executar diversas tarefas do dia a dia pela internet, geralmente, por meio de smartphones e redes móveis de conexão. 

Com isso, saímos de um contexto em que a internet era algo restrito e as ligações telefônicas vigoravam como o nosso principal meio de interação, para um ambiente em que as pessoas não conectadas são colocadas à margem da sociedade, em que as ligações de voz se tornaram uma de nossas últimas opções de contato e que a inteligência artificial passou a auxiliar em múltiplas atividades cotidianas. Tudo isso em duas décadas, algo ínfimo em termos de história, portanto, trata-se de um avanço sem precedentes. 

Nos anos iniciais do século XXI, pesquisadores de renome defendiam a tese de que vivíamos em uma sociedade da comunicação e da informação, afinal, estávamos em um mundo globalizado, conectado e que a economia mundial criava estreitos laços de interdependência. Duas décadas depois, notamos mudanças importantes nesse quadro, por exemplo, a globalização não inseriu todas as pessoas, povos e nações em uma economia integrada, além disso, o capitalismo continua segregando e hierarquizando os Estados a partir de seu poder econômico e bélico. 

Se no início do século percebíamos uma catalisação do poder centrada em um único eixo, agora, notamos a criação de novos blocos políticos, a ascensão de um novo império (China) e a queda vertiginosa dos EUA no xadrez global. No âmbito das interações humanas, ocorreu uma ampliação na disponibilidade e qualidade de acesso à internet, os aparelhos celulares passaram a unir múltiplos dispositivos, tornaram-se smartphones, as tecnologias de acesso à internet viabilizaram conexões sem fio, o que impulsionou novas formas de interação e circulação de informação, contribuindo para a integração das tecnologias de modo profundo em nosso viver. 

Nesse contexto de conectividade, de atividades conectadas, temos a sensação de que contatar um colega, fazer uma reunião de trabalho, pesquisar sobre assuntos e produzir conteúdo se tornou algo cada vez mais fácil e prático. Porém, pouco se questiona se as interações propiciadas por esses meios são comunicativas, de fato. 

Será que o áudio que mandamos no grupo da família, as pequenas trocas de mensagem que fazemos no trabalho ou com um colega, os vídeos que assistimos pelas redes sociais, as fotos que curtimos, dentre outras coisas, são comunicações? Penso que levantar tal questão seja muito relevante, pois ela nos ajuda a sair do platô cotidiano, ou seja, de fazer as coisas no modo automático, porque é necessário pensar sobre aquilo que move a nossa vida íntima, profissional e social.

Em síntese, pensar sobre a comunicação é algo fundamental para a vida em sociedade, porque ela não diz respeito apenas aos contextos profissionais e acadêmicos. Pelo contrário, a reflexão nos leva também ao bom senso, que pode nos permitir enxergar aquilo que é essencial para a composição de nossas vidas no âmbito público e privado.  



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Alencar 05/08/2025

Deodato, o seu texto traz uma reflexão necessária sobre a essência da comunicação, ao destacar que o verdadeiro diálogo só acontece quando há acolhimento da alteridade. A forma como você conecta esse conceito com temas como violência, exclusão social e a superficialidade das interações digitais nos provoca a repensar o impacto das nossas trocas cotidianas, tanto no espaço íntimo quanto na sociedade. É uma leitura que nos tira do automático e nos faz questionar o que, de facto, significa comunicar.

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