AMOR SEM MEDO Segunda-feira, 18 de Agosto de 2025, 15:27 - A | A

Segunda-feira, 18 de Agosto de 2025, 15h:27 - A | A

REGINA DELIBERAI TREVISAN

Controle, ódio, submissão e violência contra a mulher: Isso não é de Deus

Regina Deliberai Trevisan 


[email protected]

Jornalista, autora do livro DEUS NÃO É MACHISTA e coordenadora do Grupo de Intercessão SOU ESPÍRITO. Instagram @ReginaDeliberai

A violência contra a mulher, predominante em culturas variadas em todo o planeta, finalmente, tem chamado a atenção social. Com certeza, isso é também porque as mulheres assumiram postos de trabalho nos meios de comunicação e abriram espaço para a divulgação desse tema sob um prisma feminino, isto é, o ponto de vista da vítima. 

No contexto da violência doméstica, tantos aspectos são salutares para entendermos que sua fonte está arraigada no entendimento de que o homem pode agir da maneira que quiser em relação à mulher, julgando-se a si mesmo como dono da razão em qualquer circunstância, ultrapassando os limites do direito e da justiça. A base dessa compreensão desumana é tão antiga quanto a própria humanidade e entronizada até em estruturas que existem para a promoção do amor e igualdade, como mandamentos de Deus. 

As igrejas cristãs têm como fundamento a bíblia, o livro mais lido no mundo inteiro, com bilhões de exemplares vendidos e traduzido para mais de 3 mil idiomas. Somente por isso, o seu impacto para a manutenção, ou não, de certos preconceitos deveria merecer mais atenção.  

Outro dado estatístico traz uma revelação espantosa para os que lutam por transformação social nesta área. Uma pesquisa publicada em 2018 pela teóloga Valéria Vilhena, no curso de doutorado, na Universidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo, constatou que 40% das mulheres vítimas de agressões físicas e verbais de seus companheiros se declaram evangélicas, no Brasil.

O nosso país está entre os maiores com população cristã, com 175 milhões de seguidores. Os Estados Unidos que superam o Brasil com cerca de 246 milhões de cristãos, segundo o Instituto Pew Research Center, registram que aproximadamente 22% das mulheres sofreram violência do parceiro íntimo durante a vida. 

Alguns questionamentos que podem ser encarados como óbvios são bem-vindos para alguma luz ser lançada sobre este cenário:  há textos bíblicos que aprovem a violência contra a mulher? Resposta: não. Há algum que promova o machismo? Não. Há algum atributo em Deus que o defina como machista? Resposta taxativa, não. Jesus Cristo, proclamador do evangelho, falou algo na Terra em favor da violência, ou especificamente, da violência contra a mulher? Não. 

Conclui-se então que nem Deus, nem a sua Palavra são machistas. Por consequência vamos a mais perguntas. Porque os que acreditam em Deus, são cristãos e estudiosos e seguidores da bíblia, são machistas. Por que nações predominantemente cristãs ainda enfrentam a misoginia como problema social tão grave? 

Concluir que os seguidores podem não necessariamente viver tal qual a Palavra de Deus ensina, é muito pouco como resposta. 

Um espectro de culpa recai sobre a mulher desde que o fruto proibido foi comido por Adão e Eva. A partir do pecado original, as ministrações religiosas são justificadas para estabelecer diferenças entre homem e mulher que extrapolam as características biológicas. A mulher recebe um tratamento que a inferioriza em relação ao homem das mais diversas maneiras, inclusive intelectualmente. 

Os avanços sociais nesta área não têm sido capazes de promover na maioria das lideranças religiosas qualquer sombra de mudança. Consequentemente, a fidelidade à liderança promove o preconceito no interior das igrejas.  Quando se fala em nome de Deus, o entendimento é que a Palavra dele não muda. Não muda mesmo, difícil é reconhecer que a ministração tem mudado não somente a Palavra, mas os próprios atributos de Deus. Quem está pregando conteúdo machista há décadas terá a coragem de confessar e se arrepender publicamente, diante da comunidade liderada?

Enquanto isso mulheres crentes vítimas de violência são orientadas pela maioria de pastores e padres a permanecer no lar, perdoando aquele marido que continua violento. Muitas vezes até o feminicídio. Enquanto este permanece fiel frequentador dos cultos dominicais sem qualquer constrangimento.

Deus não é machista e a bíblia não dissemina o machismo, pelo contrário.  “Deus não faz acepção de pessoas” (Atos 10:34-35) e “odeia aquele que se veste de violência” (Malaquias 2:16). Tais verdades bíblicas deveriam ser o suficiente para o combate ao machismo de forma amorosa e cristã, mas com veemência. Com certeza, pelo menos, nas grandes nações cristãs, esta seria uma contribuição impactante contra a misoginia. 

Leia outros conteúdos da coluna Amor Sem Medo:

Mato Grosso lidera ranking nacional de feminicídios pelo segundo ano consecutivo

Quatro cidades de MT estão entre as 50 com maiores taxas de estupro no Brasil

Perguntar não ofende. E ainda ilumina nossas almas

Agosto Lilás: é tempo de dar um basta à violência contra a mulher

A voz de Jannira: o silêncio quebrado que ensina a falar

Personalidades que emocionaram o mundo: o poder feminino

Crer na palavra da vítima é o 1º passo para salvar vidas, alerta defensora

Lei Maria da Penha, 19 anos: um marco na luta contra a violência e os desafios que persistem

Maria da Penha - a mulher cujo nome virou escudo, virou lei

Machismo e violência caminham juntos – Parte I

Machismo e violência caminham juntos – Parte II 

O diálogo transformador na luta contra a violência doméstica

“Deus não é Machista” e os homens que são contra as mulheres

Entre a Proteção e o Protagonismo: o Trabalho como Rota de Liberdade para Mulheres em Situação de Violência

Quando a violência de casa chega à escola

Um retrato de Mato Grosso pela voz da coragem

 

 



Comente esta notícia

Nossa República é editado pela Newspaper Reporter Comunicação Eireli Ltda, com sede fiscal
na Av. F, 344, Sala 301, Jardim Aclimação, Cuiabá. Distribuição de Conteúdo: Cuiabá, Chapada dos Guimarães, Campo Verde, Nova Brasilândia e Primavera do Leste, CEP 78050-242

Redação: Avenida Rio da Casca, 525, Bom Clima, Chapada dos Guimarães (MT) Comercial: Av. Historiador Rubens de Mendonça, nº 2000, 12º andar, sala 1206, Centro Empresarial Cuiabá

[email protected]/[email protected]

icon-facebook-red.png icon-youtube-red.png icon-instagram-red.png icon-twitter-white.png